| CRÍTICAS | How To Have Sex – A Primeira Vez

How To Have Sex – A Primeira Vez é o American Pie – A Primeira Vez da nova geração (aliás, o facto de ambos terem recebido o mesmo subtítulo em português não pode ser só simples coincidência). O tema de ambos é a perda da virgindade enquanto marco de um coming of age, mas enquanto que o filme dos Weitz o faz com muita testosterona, javardice e basqueiral, este fa-lo de forma mais reflexiva e introspectiva. Ou seja, enquanto que American Pie – A Primeira Vez é o espelho da Geração Z, a última que viveu um período de euforia e de todos os excessos que isso possibilita, How To Have Sex – A Primeira Vez é o reflexo das millenials, uma geração mais consciente do seu papel social, tanto no passado como na forma como se projectam no futuro.

How To Have Sex – A Primeira Vez é então a história de três amigas adolescentes, Tara (Mia McKenna-Bruce), Skye (Lara Peake) e Em (Enva Lewis), que vão de férias para uma daquelas party islands da Grécia, neste caso Malia. Toda a gente sabe como funcionam as viagens de finalistas e, por isso, sabemos o que esperar da viagem: muito álcool, festas na praia, ressacas de caixão à cova e hormonas aos saltos. E mais algum álcool. Aliás, Tara até leva um objectivo bem definido na sua agenda: perder a virgindade e, com isso, entrar no clube dos adultos.

Só que How To Have Sex – A Primeira Vez é um filme com alguma consciência própria e que sabe que todas as decisões têm consequências. Por isso, a realizadora constrói aqui uma meditação sobre a pressão social, sobre o FOMO – fear of missing out, aquela ansiedade tão típica da adolescência -, sobre as expectativas (as notas ainda não saíram, mas parece que os exames não correram particularmente bem) e sobre o consentimento, que dá uma espessura muito mais séria ao filme do que o simples basqueiral de American Pie – A Primeira Vez.

Só que o melhor do filme é que Molly Manning Walker não o faz da forma mais expectável nem tão pouco directa. How To Have Sex – A Primeira Vez faz lembrar um pouco o estilo de Aftersun, numa espécie de realismo que parece limitar-se a seguir as suas personagens por entre as festas selvagens nocturnas e as ressacas brutais nas manhãs seguintes, mas que escarafuncha lá bem fundo sem nos sequer apercebermos. E fa-lo com sucesso principalmente graças a dois trunfos. O primeiro são as próprias personagens, que recusam ser os estereótipos que ao início parecem ser e que são bem mais complexas do que aparentam; e o segundo são as próprias jovens actrizes, com destaque para a protagonista Mia McKenna-Bruce, super-expressiva e por quem a câmara parece ter um carinho especial, o que é particularmente feliz nas cenas nocturnas, em que a música alta impede qualquer tipo de diálogo.

É certo que, por vezes, How To Have Sex – A Primeira Vez parece deixar-se ir até se encurralar num beco sem saída ou num quarto trancado, mas isso também faz parte da forma como aquelas miúdas se perdem nas suas próprias vidas. Não faz mal, porque logo a seguir termina a noite a amanhã recomeça tudo de novo: piscina de tarde, shots à noite, rapazes e dançar até cair de cu. How To Have Sex – A Primeira Vez é um espace de uma semana numa ilha grega, que nos serve um McBacon que nos lembra que as primeiras vezes são sempre mais traumáticas do que os últimos hurrahs dos American Pies e dos Porky’s desta vida.

Título: How To Have Sex
Realizador: Molly Manning Walker
Ano: 2023

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