Tal como o ninja, também o assassino a soldo é uma figura de ficção criada e alimentada por Hollywood. No entanto, está tão presente no imaginário colectivo, que a maioria das pessoas acredita mesmo que é uma profissão real e bem remunerada. Mas mais incrível ainda é que, nos Estados Unidos, a polícia tem polícias sob disfarce que se fazem passar por assassinos profissionais, para prenderem pessoal que pretende encomendar a morte dos seus pares. Como é que isto é legal? Ninguém sabe responder.
Assassino Profissional é baseado livremente numa história real, a de Gary Johnson (Glen Powell), um desses agentes provocadores que se apaixona por uma das suas clientes (Adria Arjona). Gary Johnson convence-a a não encomendar a morte do seu marido e a optar simplesmente pelo divórcio e, logo a seguir, começam a namorar. A coisa até parece mais ou menos inocente, mas Gary Johnson não desfaz logo o seu disfarce no início e, claro, a mentira vai escalando cada vez mais até não caber mais na sala.
Assassino Profissional é uma daquelas histórias mais estranhas do que a ficção que, por isso, só pode mesmo ser verdade. É um género que está muito em voga em Hollywood, nessa abordagem muito auto-depreciativa dos seus próprios heróis e figuras mitológicas. Neste caso é a do polícia sob disfarce, que inicia a sua carreira por acidente. É que Gary Johnson até era um professor de filosofia que só dava apoio tecnológico à polícia e, certo dia, quando o agente provocador é suspenso à última da hora, os colegas convencem-no a avançar.
A surpresa das surpresas é que Gary Johnson, contra todas as previsões, revela ser bom, muito bom naquilo. Tão bom que começa a preparar-se para cada intervenção como um actor do método, numa espécie de meta-referência ao trabalho cinematográfico, que o realizador Richard Linklater aproveita para puxar da sua costela cinéfila. E sempre que Gary Johnson se prepara para ir conhecer um novo cliente, mascara-se como alguém que reconhecemos dos filmes de Hollywood. Alguns são mais óbvios, como o Anton Chigurh de Este País Não É Para Velhos, mas há também um momento Psicopata Americano, outro à Matthew McConaughey e até um que parece o Tommy Wiseau.
Assassino Profissional é assim uma espécie de feelgood movie, que se mantém sempre ligeiro apesar de Richard Linklater fazer umas rasantes a alguns temas pertinentes, como essa questão da legalidade e ética o agente provocador ou a parte psicológica do quem somos realmente vs quem queremos ser – o ego contra o id. Por isso, no final, Assassino Profissional vê-se sem fastio, é um McChicken bem melhor do que o cartaz e a sinopse faziam antever, mas que nem por isso deixa de ser ligeiramente esquecível.
Título: Hit Man
Realizador: Richard Linklater
Ano: 2023