| CRÍTICAS | Armadilha

A nossa relação com o cinema de M. Night Shyamalan está a tornar-se numa espécie de variação de síndrome de Estocolmo. Sabemos que o realizador, que em tempos chegou a ser apelidado (e com grande convicção) de o novo Alfred Hitchcock (lol), já não faz um filme bom há anos (décadas?), mas mesmo assim não desistirmos dele e vamos sempre ver o seu próximo trabalho, na esperança de que agora é que vai ser. Mas nunca é e, no fundo, sabemo-lo logo de antemão.

Em Armadilha, M. Night Shyamalan cria uma cantora altamente popular, que não pode deixar de lembrar o fenómeno Taylor Swift. Lady Raven é interpretada pela debutante Saleka Shyamalan, cujo apelido revela logo quem é o pai. Curiosamente, neste ano, a sua outra filha, Ishana Shyamalan, também se estou no cinema, mas como realizadora (alguém mencionou The Watchers – Eles Veem Tudo?).

Lady Raven vai então dar mais um dos seus concertos esgotados e Josh Hartnett conseguiu bilhetes numa das primeiras filas para levar a filha (Ariel Donoghue), uma fã acérrima. Hartnett é um daqueles pais que não se importa de fazer certos sacrifícios pela felicidade da filha, como por exemplo acompanha-la ao concerto da sua cantora favorita, mesmo que isso signifique hora e meia de pop pastilha elástica e descartável.

Há um twist logo de início – e vão haver outros, ou isto não fosse um filme de M. Night Shyamalan – e, depois, Josh Hartnett descobre um segredo inadvertidamente: a polícia está a preparar-se para capturar um perigoso serial killer que se encontra na arena a ver o concerto. Isso ajuda a explicar a tonelada de polícias no evento, incluindo carros de combate no exterior.

Dada uma conjugação de factores, Josh Hartnett vai ter que arranjar uma forma de abandonar o pavilhão Atlântico lá do sítio sem ser revistado pela polícia, comandos pela figura implacável de uma senhora profiler (Hayley Mills), que anda por lá a tentar tirar a pinta ao serial killer. Hartnett vai experimentar uma série de tentativas, cada uma mais rabiscada do que a anterior, mas invariável e surpreendentemente quase todas elas funcionam. Preguiça de Shyamalan? Se calhar faltou-lhe ver algo como o Beatlemania, o filme de Robert Zemeckis em que um grupo de adolescente tentava entrar à socapa nos estúdios do Ed Sullivan Show para ver ao vivo os Beatles durante a sua primeira digressão norte-americana.

Depois eles têm “sucesso” na fuga, mas há mais um twist e começa então um novo filme, num novo cenário e com uma nova situação, que é significativamente menos interessante – a todos os níveis – de que a anterior. Armadilha é um M. Night Shyamalan a procurar trabalhar em redor de uma situação imprevisível e inteligente, mas que é só espertalhona. Por isso, no último acto de Armadilha, já não poderíamos interessar-nos menos e o Happy Meal já se enrola todo na boca.

Título: Trap
Realizador: M. Night Shyamalan
Ano: 2024

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