| CRÍTICAS | MaXXXine

Em MaXXXine, o realizador Ti West explica de forma involuntária (ou não) a razão do sucesso dos dois filmes anteriores, que deram origem a estar trilogia, depois de X e Pearl. Diz ele, para descrever a aspirante a actriz, Mia Goth: uma cara memorável e um óptimo corpo. Afinal, é ela a verdadeira atracção destes filmes e não admira que se tenha tornado na principal scream queen da actualidade. Ainda por cima, agora descobrimos que save falar português e tudo. Há algo que o povo mais goste do que uma celebridade capaz de arranhar a língua de Camões?

Ao contrário de Pearl, que era uma prequela tímida de X, MaXXXine é uma sequela directa desse primeiro filme, que até usa imagens de arquivo para fazer a ponte. Curiosamente, esses flashbacks rapidamente desaparecem, mal ficamos com a certeza de que esta é a história da mesma jovem actriz sobrevivente dos episódios sangrentos de X, 10 anos depois. Agora, estamos em plenas anos 80. E, apesar de ser uma consolidada actriz porno, Maxine Minx continua a aspirar a maiores voos. E a oportunidade parece ter finalmente surgido, ao ser escolhida para protagonizar o novo filme de terror de Elizabeth Debicki, The Puritan 2.

Depois dos anos 70, em X, e dos anos 50, em Pearl, Ti West faz uma reconstituição de época irrepreensível dos eighties. Há sintetizadores na banda-sonora, mas também muito hard-rock de estádio; há o formato da imagem que remete para o vhs; e há até o satanismo, muito em voga nessa altura (se não sabem do que falo, vejam primeiro o documentário Satan Wants You), com imagens reais de Dee Snider em tribunal e um serial killer (fictício) à solta. No entanto, o vilão de MaXXXine saiu directamente do giallo italiano, todo de cabedal e tudo.

Se os filmes anteriores já flirtavam mais ou menos directamente com a costela cinéfila de Ti West, MaXXXine leva essa relação ainda mais longe, sendo quase meta. E nisso, MaXXXine lembra Nope, o filme de Jordan Peele, o realizador de terror que também tem andado nas palminhas de toda a gente. É que, ao ser ambientado em Hollywood, com um filme dentro do filme, há referências a Theda Bara ou a Psico, com sequências inteiras filmas no próprio Motel Bates.

Portanto, MaXXXine dispara para várias direções, mas fica sempre a sensação de que não consegue ir recolher todas as canas. E quando entra o terceiro acto e a identidade do vilão é revelada há não há tempo para mais, com tudo a ser resolvido em cima do joelho. É certo que é o mais ambicioso filme da trilogia, mas o Double Cheeseburger mostra que nem por isso é necessariamente o melhor.

Título: MaXXXine
Realizador: Ti West
Ano: 2024

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