| CRÍTICAS | Longlegs – O Coleccionador de Almas

Há algo no início de Longlegs – O Coleccionador de Almas que nos remete para Mandy. É, sobretudo, o entusiasmo que cresceu nos fóruns online e que tem destacado o papel fora da caixa de Nicolas Cage (mas não são todos?), mas é também por uma entrada de ecrã vermelhão sangue e uma citação dos T-Rex (Mandy citava Neill Young a abrir). Mas Longlegs – O Coleccionador de Almas é outra coisa. Logo a seguir temos um ecrã quadrado, como se estivéssemos a ver um home video antigo de 8 mm, e surge um Nicolas Cage irreconhecível e desenquadrado do plano, e o que acontece a seguir, sem ser necessariamente perturbador, vai deixar-nos sem dormir nessa noite.

Depois arranca verdadeiramente o filme. Maika Monroe é a protagonista, uma defectiva que parece ter poderes intuitivos acima do normal, se bem que isso nunca é muito bem explorado (aliás, como vários outros temas do filme). Maika Monroe vai encarregar-se dum caso macabro de um serial killer que há décadas esventra famílias inteiras, sempre no mesmo dia do ano, deixando crípticas mensagens codificadas e sem nunca entrar sequer nas casas das vítimas. Há algo de paranormal nessa ameaça, mas isso também é sempre mais aflorado do que propriamente explorada. Talvez seja só a sugestão do satanic panic da altura, já que a história passa-se nos anos 90.

Depois há ainda umas bonecas hiper-realistas que hão de parecer, uma mãe meio biruta que esconde qualquer coisa por trás do seu fanatismo religioso e mais uma série de coisas mais ou menos evidentes que o realizador pede emprestado a décadas de cinema de terror. Oz Perkins, sobrinho do outro Perkins, demonstra uma costela cinéfila apurada e é exímio ao criar uma atmosfera densa, sinistra e ameaçadora, que nos engole por completo.

Em contrapartida, Longlegs – O Coleccionador de Almas parece ter-se esquecido de ter o seu próprio argumento no meio de tantas apropriações. Há tópicos que parecem ficar interrompidos, a verdadeira origem e motivação da ameaça nunca é explicada e, no final, tudo parecem ser passos a mais para um desfecho tão banal. E porquê tantas referências aos T-Rex? Há elementos totalmente gratuitos que servem apenas para criar ambiente, como, por exemplo, Cage a ter liberdade para ir full caged por um par de vezes. Por isso, como não gostar no final do McChicken.

Título: Longlegs
Realizador: Osgood Perkins
Ano: 2024

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