Com Joker, em 2019, Todd Phillips conseguiu um brilharete inesperado. Primeiro, porque o filme não era o convencional super-hero movie, pelo menos dentro daquilo que nos habituámos a ver no cânone da Marvel e da DC. E, segundo, porque era uma cópia desavergonhada de O Rei da Comédia (e com uns pozinhos de Taxi Driver), a que muito boa gente preferiu fechar os olhos (se bem que, no final, tinha o descaramento de matar a personagem de Robert de Niro e isso teve graça). Por isto – e não só -, afirmo-o aqui: Joker é um filme sobre-valorizado. Pronto, tenho dito. Agora podemos avançar.
Joker – Loucura a Dois era então a sequela mais esperada do ano, se bem que tem levado tanta porrada da crítica e do público que já o apelidaram de pior filme de 2024. O que não deixa de ser engraçado, tendo em conta que este ano já tivemos coisas como Madame Web. A verdade é que Joker – Loucura a Dois não é assim tão mau. E a principal razão de levar tanta pancada é a de… ser um musical, esse género tão inexplicavelmente odiado pelo público. E que não deixa de ser curioso acontecer em plena época do TikTok. Mas vamos lá então.
Joker – Loucura a Dois começa então com Arthur Fleck (Joaquin Phoenix) na prisão, a aguardar julgamento. Lá fora, a opinião pública divide-se: de um lado, o procurador Harvey Dent (Harry Lawtey) pede a condenação à morte (é Todd Phillips a continuar a fazer rasantes à mitologia do Homem-Morcego, apesar do filme estar agora inscrito oficialmente no DC Elseworlds); do outro, a advogada de defesa (Catherine Keener) procura mostrar que ele é apenas um homem doente, com distúrbio de personalidade. Contudo, os seus principais defensores são os anarquistas que, na rua, continuam a tomar o seu gesto niilista como disruptor. No fundo, essa disputa reflectiu-se também na vida real, entre os que acusaram o filme de ser populista e de direita e os que lhe apontaram o dedo por ser revolucionário e de esquerda. Na verdade, Joker – Loucura a Dois é um film revolucionário, mas apenas para quem não quer pensar muito, já que se preocupa muito pouco com as suas personagens e muito com as próprias ideias.
Entra então em cena Lady Gaga, a Harley Quinn dos quadradinhos, que todos sabemos que é a parceira de Joker. Ela é uma paciente no Arkham State Hospital, que conhece Fleck numa sessão de terapia musical e logo nasce uma paixão obsessiva entre os dois. Só não sabemos é se Quinn está fascina po Arthur Fleck, o homem, ou apenas pela ideia do Joker. Harley Quinn é manipulava e a grande protagonista desta sequelas se bem que Todd Phillips, como já referi, está mais interessado no que as personagens representam no que aquilo que realmente são. É como o próprio título: folieu à deux, que significa um distúrbio de personalidade, refere-se ao Joker que encontrou uma parceira que o entende na sua loucura (a minha avó sempre que disse que há sempre um testo para cada tacho) ou a Arthur Fleck e ao seu alter-ego? Não é claro, mas o que se sabe é que Quinn, quando percebe que o Joker não é real, tem de destruir o homem para a imagem viver. Kill your idols, certo?
No entanto, Joker – Loucura a Dois continua a ser uma crítica ao mediatismo e quando Lady Gaga aparece, o filme transforma-se… num musical. Pode parecer uma opção estranha por parte de Phillips, mas a verdade é que essa é a forma em que a ilusão de Fleck se manifesta, com referências muito óbvias: Fred Astaire, A Roda da Fortuna, Charlie Chaplin… A selecção de cantigas é muito boa, mas também é certo que os números musicais, que nunca são propriamente de tirar o fôlego, emperram o ritmo do filme e tornam-no mais longo do que necessário.
No final, encerra-se (maios ou menos) a origem do Joker e ficam lançados os dados para uma terceira sequela, desta vez dedicada a Harley Quinn. E Joker – Loucura a Dois pode não ser brilhante, mas é um McBacon bem melhor do que o pintam. Pelo menos, é mais original do que o seu antecessor.
Título: Joker – Folieu à Deux
Realizador: Todd Phillips
Ano: 2024