| CRÍTICA | O Pub de Old Oak

Aos 87 anos de idade, Ken Loach anunciou a reforma com um último filme, que é tudo aquilo que o seu cinema nos habituou: realismo social politicamente engajado e orientado à esquerda. Normalmente, os seus filmes são um murro no estômago, mas este é também um abraço apertadinho. E, por isso, O Pub de Old Oak é uma excelente forma de nos despedirmos de Loach.

O pub do título é então o bar que é o centro nevrálgico de Durham, uma pequena vila mineira britânica, a sofrer com a desertificação, o desemprego e outros desafios que estes territórios estão a enfrentar por toda a Europa. O Old Oak é um microuniverso, que reflecte realidades macro bem maiores: a da própria localidade, como referi, mas também a inglesa e até a europeia. Ou seja, O Pub de Old Oak é uma história extremamente local, mas com ondas de reverberação altamente identificáveis.

No entanto, o que vem agitar a ordem social de Durham é a chegada de vários refugiados sírios, deslocados pela guerra contra o regime de Assad. As tiradas racistas e xenófobas que ouvimos no interior do bar não nos são em nada estranhas, já que são as mesmas que lemos nas redes sociais nacionais e outros esgotos a céu aberto: primeiro os nossos, voltem para a vossa terra, etc. E lá, tal como aqui, é facil de perceber a contradição da coisa. É que muitos daqueles que criticam e acusam são também estrangeiros (irlandeses, escoceses…) ou trabalhadores oprimidos pelos poder, que já se esqueceram ou perderam qualquer noção de classe.

Quem nunca perdeu de vista esse combate ao capitalismo que é feito pela base, ou seja, pela luta de classes, foi Ken Loach. E isso reflecte-se em O Pub de Old Oak, com o seu realismo britânico muito aprumado (se bem que, às vezes, é tão aprumado que chega a ter uma dimensão televisiva) e personagens que, apesar de representarem arquétipos, não deixam de ter espessura humana e serem fáceis de nos identificarmos com elas.

Quem foge a este estereótipo é TJ (Dave Turner), o protagonista do filme. Ele é o dono do bar e esta crise social vai servir para reavivar traumas recentes. É que O Pub de Old Oak é também um filme sobre redenção. Para isso, TJ vai contar com Yara (Ebla Mari), uma jovem refugiada (e fotógrafa) que vai ser a ponte entre as duas comunidades. E, se primeiro vai ser a fotografia a servir de medium para aproximar os locais e os sírios, no final vai ser a comida que vai acabar por os integrar e incluir.

O Pub de Old Oak é uma história simples, mas que funciona por essa simplificação de processos. E, no seu minimalismo, comove sem ser sentimentalão, lembrando-nos pela enésima vez que somos todos seres humanos de passagem por este planeta. É uma mensagem batida? Sim, sem dúvida, mas o senso comum não é assim tão comum quanto o nome indica e precisa de ser regularmente realçado. Obrigado por o fazer, senhor Ken Loach. Eis um McBacon como agradecimento por tudo.

Título: The Old Oak
Realizador: Ken Loach
Ano: 2023

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