| CRÍTICAS | Slaxx – Fica-te a Matar

Slaxx – Fica-te a Matar parece um filme de Quentin Dupieux, com uma premissas tão absurda que ninguém percebe como é que ele consegue que elas sustenham um filme inteiro. Neste caso, estamos a falar de um par de calças de ganga assassino(!). Sim, o próprio Dupieux tem um filme com uma ideia parecida, mas enquanto que, em 100% Camurça, quem veste o casaco é que se torna num assassino, aqui são as próprias calças que são uma máquina de matar(!). Por isso, Slaxx – Fica-te a Matar está mais perto de Rubber – Pneu, no sentido em que é um objecto inanimado que ganha vida e um apetite voraz por sangue.

Claro que também há Maldito Vestido, mas esse é muito mais estilizado. Slaxx – Fica-te a Matar vai beber directamente à fonte, ou seja, ao série b javardo. Há, portanto, muito gore, galões de sangue desperdiçados e mortes tão patetas quanto absurdas, provando que os limites entre o terror e a comédia são sempre mais difusos do que parecem à primeira vista.

Estamos então no interior de uma loja de roupa tipo Zara, onde todos se comportam como se trabalhassem numa grande empresa, comunicam por auriculares sem necessidade disso e utilizam frases feitas e conceitos tão patetas quanto o slogan da marca: fazendo um dia de amanhã melhor hoje. É, simultaneamente, uma crítica mordaz à fast clothing e uma sátira ao cidadão do século XXI, os nómadas digitais e empreendedores desta vida. E essa é a melhor parte de Slaxx – Fica-te a Matar.

A loja prepara-se para apresentar a sua nova colecção e um modelo novo de calças de ganga com uma tecnologia inovadora que se adapta a qualquer par de pernas, vai receber a visita de uma youtuber tão famosa quanto a sua cabeça é oca e é, simultaneamente, o primeiro dia de trabalho de Romane Denis, que é a fã número 1 da marca e do seu mentor. E, depois, as calças de ganga ganham vida e começam a matar gente à barda, algo que o director da loja (Brett Donahue) tenta esconder ao início para não prejudicar a sua promoção.

Slaxx – Fica-te a Matar é um filme curtinho, que procura esticar a sua premissa até ao mínimo da longa-metragem, quando daria claramente uma curta bem melhor. Depois cria um sub-plot sobre a exploração do trabalho infantil que a marca promove na Índia e que explica o frenesim homicida das calças de ganga, mas que parece levar-se demasiado a sério para um filme sobre… umas calças assassinas(!). E, poucos minutos depois de ter feito uma piada sobre a observação racista de Romane Denis a Sehar Bhojani de gostar muito de música de Bollywood só por ela ser ascendente de indianos, Slaxx – Fica-te a Matar mergulha de cabeça em todos os preconceitos da Índia, com bindi incluído e tudo. Sim, as calças assassinas vão ter um bindi ou não fossemos nós não perceber que incorporam o espírito de uma menina morta que trabalhava nos campos de algodão da marca. Nada de novo para ver neste Happy Meal além da premissa que o sustém.

Título: Slaxx
Realizador: Elza Kephart
Ano: 2020

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