| CRÍTICAS | Borderlands

Já estamos suficientemente perto do fim para poder afirmar: 2024 foi um ano de irritações (cinematograficamente falando, claro). Umas justificadas, outras nem tanto, mas 2024 foi o ano que irritou os fãs da DC (com a sequela Joker – Loucura a Dois), os fãs da Marvel (com o desastre Madame Web) e os fãs dos jogos de computador (após 3 anos de pós-produção, Borderlands finalmente estreou). No entanto, apenas este último se pode gabar de ter sido o maior flop do ano, tendo facturado apenas 30 milhões de dólares em bilheteira contra os 100 milhões de orçamento. Quer dizer, entretanto parece que o novo O Corvo ainda foi um fiasco maior, mas como esse é outra das irritações do ano, está tudo bem.

Borderlands adapta um popular jogo de computador do qual nunca ouvi falar e que só não parece ter sido feito já a pensar num posterior ecrã de cinema, porque certamente que foi criado por dois maluquinhos cinéfilos. É que não há nenhuma ideia original em Borderlands, tudo parece reciclado dos mais populares franchises do cinema. A ópera-espacial Guerra das Estrelas (até há um autómato que é reminescente do R2-D2, se bem que rivaliza com Jar-Jar Banks em irritante), o cenário pós-apocalíptico de Mad Max (mas com um tratamento higienizante para maiores de 6) e os grupos corais de heróis, qual Guardiões da Galáxia (com quem partilha o mesmo humor descontraído das adaptações de James Gunn). E para que ninguém tenha dúvidas dessa herança cinematográfica, Eli Roth até começa o filme com uma piada copiada directamente do A Mais Louca Odisseia no Espaço.

Não há nada de mal nisso. Quantos títulos não parecem um monstro do Frankenstein, todos retalhados e construídos a partir de referências de outros filmes, e que depois são bons pedaços de entretenimento? Não é que Borderlands também não seja divertido (como em fun) e até agradável (como em enjoyable), mas há muito pouco de filme aqui. Pelo menos a partir do conceito tradicional de narrativa, com princípio, meio e fim. Borderlands é antes um jogo de computador para ver no ecrã de cinema (ou na televisão, já que apeie que ninguém o foi ver às salas), mas onde não controlamos nada do que se passa. É mais ou menos como assistir a pessoal a jogar, enquanto se filma em directo para o Youtube e outros canais de streaming.

Borderlands é então altamente formulaico, em que a narrativa se limita a organizar entre cena de acção, cena de diálogo-cena de acção-cena de diálogo, em que uma introduz a próxima e por aí adiante. A história nem sequer é muito original, já que tudo é limitado aos mínimos indispensáveis. Há então um planeta chamado Pandora, um pardieiro habitado por todo o tipo de criaturas e sacanas intratáveis, onde está escondido um tesouro com tecnologia extraterrestre que todos buscam incessantemente. Cate Blanchett é uma caçadora-de-prémios que vai ser contratada pelo autocrata da galáxia (Edgar Ramírez), para ir resgatar a filha (Ariana Greenblatt), que foi raptada e levada para Pandora. Blanchett acabará por formar equipa com um antigo soldado desertor (Kevin Hart, que coragem ainda há em contratarem este tipo que não tem um único filme minimamente decente na carreira), um psicopata grandalhão (Florian Munteanu), o tal autómato de que vos falei antes (voz de Jack Black) e uma especialista em tecnologia extraterrestre (Jamie Lee Curtis).

No meio disto tudo, Cate Blanchett parece ser a única que se diverte, no seu papel de badass, provando que até mesmo num filme como este é impossível ficar mal. Eli Roth vai tentando encadear tudo com sequências de acção e destruição cada vez maiores (e que cada vez brilham mais e fazem mais barulho), utiliza uns temas de róquenrole para dar emoção à coisa (até há uma sequência de acção com o Ace of Spades) e polvilha o resultado final com one-liners espirituosas e humor de algibeira, onde mais do que uma personagem (incluindo a da miúda, Ariana Greenblatt) tentam rivalizar com o autómato de Jack Black em qual é o mais chato. Spoiler: é o autómato de Jack Black.

Borderlands é o pior filme do ano? Não. Tal como Joker – Loucura a Dois, por exemplo, é mais vítima de fãs maluquinhos e desiludidos porque a roupa do protagonista não é da mesma cor (ou outra coisa irrelevante qualquer, sei lá, quem é que consegue acompanhar o raciocínio dessa gente?) do que outra coisa qualquer. É antes um filme anónimo e sem personalidade, que se vê numa tarde de domingo de ressaca, para esquecer logo a seguir. Já vi Cheeseburgers piores e a pagar.

Título: Borderlands
Realizador: Eli Roth
Ano: 2024

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