
Aos 75 anos, Pedro Almodóvar chega finalmente ao outro lado do Atlântico e lança o seu primeiro filme em inglês. Antes já tinham havido as curtas (médias?) com Pedro Pascal e Ethan Hawke e Tilda Swinton, mas só agora Almodóvar chega à longa-metragem. No fundo, é o espanhol a cumprir um salto que estava por acontecer há 30 anos, desde que Mulheres à Beira de um Ataque de Nervos o transformou num realizador global.
Pedro Almodóvar está mais velho e, com a idade, veio uma maior ponderação. Isso reflecte-se no seu cinema que, apesar de já não ter aquele ganas dos tempos iniciais, continua a versar sobre os mesmos temas. O Quarto ao Lado é um filme sobre a morte e uma reflexão sobre o nosso papel no mundo (se vivemos para fazer os outros felizes, então para que vivem os outros?, questionava-se Mafalda numa famosa tira do Quino). Além disso, as mulheres, sempre as mulheres. Aqui, é Tilda Swinton (que volta a repetir a sua presença depois de A Voz Humana, lançado durante a pandemia) e Julianne Moore.

Tilda Swinton está a morrer, com um cancro terminal. Depois de terem trabalhado juntas numa revista, nos anos 80, Swinton reencontra-se com Julianne Moore, agora uma escritora de sucesso, e voltam a aproximar-se. De tal forma, que a primeira pede à segunda algo que nenhum amigo quer ouvir: que a auxilie a morrer com dignidade. No fundo, Swinton não precisa de muito. Apenas que a amiga a acompanhe numas férias, fique no quarto ao lado e, quando chegar a hora, a ajude a tratar da papelada e da burocracia. Ah… e já agora que ajude a filha desavinda a fazer as pazes com a mãe, preenchendo a sua ausência, se bem que esse é um plano não planeado, acontece apenas por capricho do destino.
Mas não se pense que O Quarto ao Lado é um filme sobre a eutanásia. Para isso, existe Mar Adentro. O Quarto ao Lado é um filme sobre a vida, com uma grande dimensão existencial, esculpido por Pedro Almodóvar a partir da palavra. O Quarto ao Lado é um filme de diálogo e das suas actrizes, o que irá fazer com que, um dia, o filme seja transportado com grande eficácia para o palco do teatro.
A cinematografia do cinema de Pedro Almodóvar continua a ser um rebuçado para os olhos, onde todas as cores, todos os pormenores e toda a mise-en-scene é escolhida com precisão. Tudo tem o seu significado e, muitas vezes, a nossa percepção nem tem que coincidir com a do realizador para que tudo funcione na mesma. O Quarto ao Lado não é um dos filmes maiores do espanhol, mas há algum título de Almodóvar que seja menor que o McChicken?

Título: The Room Next Door
Realizador: Pedro Almodóvar
Ano: 2024