
Um dos fenómenos da internet de 2024 foi a discussão entre o urso e o homem. Se não sabem do que estou a falar, eu passo a explicar. No TikTok alguém fez a seguinte pergunta a várias mulheres: se estivesses sozinha numa floresta preferias encontrar um urso ou um homem? E a maioria respondeu, claro, o urso. O assunto fez correr muita tinta nos fóruns online durante uns bons 3 dias (até surgir outra coisa qualquer online, mas provavelmente mais fútil) e deixou indignados muitos homens.
Para quem não entende como é que uma mulher pode considerar um urso mais seguro do que um homem aleatório, Woman of the Hour está aí para o explicar. O filme, que marca a estreia na cadeira de realizadora de Anna Kendrick (que também protagoniza), é a história real de um serial killer norte-americano dos anos 70, chamado Rodney Alcala (aqui interpretado por Daniel Zovatto). Durante meia década, o assassino foi reportado várias vezes às autoridades, que nunca levaram a sério as acusações. Chegou, inclusive, a ir à televisão participar num concurso(!). E quando a polícia finalmente começou a investigar mais a sério, acabou por o meter atrás das grades para o resto da vida. Oficialmente, a acusação foi do assassinato de 5 mulheres, mas estima-se que possam ter sido centena e meia(!!).

Woman of the Hour foca-se sobretudo na participação de Rodney num programa de televisão muito popular nos Estados Unidos (e que também teve uma versão portuguesa no início dos canais privados, do qual não me lembro do título), o Dating Game, onde uma mulher escolhe um de três homens para um encontro através de muitas perguntas, sem nunca o ver. Anna Kendrick é uma jovem aspirante a actriz que tem no programa uma oportunidade de ganhar alguma visibilidade pública, enquanto que Rodney, um dos participantes masculinos, é um serial killer sempre à procura da próxima vítima.
Isto não é nenhum spoiler, porque Woman of the Hour abre logo com um assassinato. Aliás, em regime de flashback, vamos acompanhando várias outras mortes ao longo do filme. Por isso, não é tanto com os códigos do thriller com que Kendrick joga aqui, mas mais os do suspense. Sabemos que aquele homem é uma ameaça e sofremos por ver a presa a aproximar-se cada vez mais das suas garras, num build up lento, mas sólido.
No final, Anna Kendrick desarma a situação e, se não estivéssemos a falar de um triste caso real, Woman of the Hour até poderia ser uma espécie de filme sem história. Mas vendo a quantidade de mulheres que foram desconsideravas durante o filme, gaslighting, mansplaining, atitudes misóginas e paternalismo machista, percebemos como este é um filme com uma mensagem tão pertinente, quanto poderosa. Talvez devam começar a mostrar este McBacon nas escolas.

Título: Woman of the Hour
Realizador: Anna Kendrick
Ano: 2023