
A Bruxa Má do Oeste, de O Feiticeiro de Oz, pode ser um dos símbolos cinematográficos mais conhecidos do Mal, mas os sabedores saberão que não é bem assim. A verdadeira vilã da história é Glinda, a Bruxa Boa do Norte, sonsa e manipuladora, que, apesar de saber que os sapatos vermelho a podem levar de volta ao Kansas, nunca revela a Dorothy essa informação até ela derrotar o Feiticeiro e deixar caminho aberto para controlar todo o mundo de Oz.
É mais ou menos a partir desta premissa (de forma livre, muuuuito livre) que nasceu Wicked, musical de grande sucesso da Broadway e o segundo mais popular de sempre. E, graças a esse sucesso, Wicked chega agora ao cinema, dividido em duas parte (a segunda estreará em Novembro de 2025), reavivando um franchise que, excepção ao filme original de 1939, nunca correu propriamente bem. Ainda há pouco tempo houve Oz – O Grande e Poderoso, que não deixou grande lembrança, e claro que não vamos sequer falar daquela versão com o Michael Jackson e a Diana Ross.
Wicked, apesar de uma abertura que decorre ao mesmo tempo de O Feiticeiro de Oz (e logo a seguir à morte da Bruxa Má do Oeste, provocada por Dorothy, que vemos a caminhar ao longe com os amigos, ao longo da estrada dos ladrilhos amarelos), é uma espécie de prequela, que conta a origem de ambas as bruxas: a Má é interpretada por Cynthia Erivo e a Boa por Ariana Grande (se bem que aqui Má e Boa têm que ser apelidos colocados entre aspas, claro).

Ambas são duas jovens estudantes na escola de feitiçaria, o que faz com que Wicked seja uma espécie de Monstros: A Universidade. Se bem que, pelo tema da magia, também há aqui algo de Harry Potter, inclusive na relação de Cynthia Erivo com a directora da escola, Madame Morrible (Michelle Yeoh). E, como em qualquer filme adolescente na escola (seja o liceu ou a universidade), Wicked vai seguir as mesmas dinâmicas: Erivo, apesar da mais inteligente e poderosa do campus, é vítima de bullying por ser verde; e Ariana Grande, que ambiciona ser a melhor em tudo, é uma cabra vaidosa e manipulativa, habituada a ter tudo o que quer. Há ainda um tipo popular que chega mais tarde e que vai disputar o coração das duas (Jonathan Bailey).
Não há aqui propriamente nada de novo. O trunfo de Wicked é, portanto, a sua costela musical. E quem não gosta de filmes em que a malta desata a cantar por tudo e por nada irá certamente odiar Wicked. É que as sequências musicais são extensas, muitas vezes prolongando-se para lá do necessário, espremendo toda uma tradição completa do musical clássico, aquele que ia beber ao vaudeville e ao conceito de entretenimento total. O filme utiliza as canções da peça original, da autoria do veterano Stephen Schwartz, incluindo os hits Defying Gravity e Popular. Nenhuma é um Somewhere over the rainbow, mas a última tornou-se numa tendência do TikTok, que é o equivalente do século XXI ao sucesso da música da Judy Garland.
O pior de Wicked é mesmo o subplot da perseguição feita aos animais, que é metida a pé-de-cabra já o filme está na segunda metade (e este é um filme longo, de mais de duas horas), e que terá provavelmente um peso mais forte na segunda parte da história. Essa história secundária, que não deixa de soar pertinente com os tempos que correm, nunca tem espaço para se desenrolar no meio de tanta cantoria, bullying à Bruxa Má do Oeste e com Ariana Grande a precisar de mostrar como é bela, perfeita e maravilhosa. Com 13 nomeações ao Oscar, Wicked não é nenhuma obra-prima e é o habitual hurrah dos musicais que normalmente conquista a cerimónia. É um sólido McChicken, mas que não irá revolucionar nada. Seja como for, também não é daqui que virá mal ao mundo.

Título: Wicked
Realizador: Jon M. Chu
Ano: 2024