| CRÍTICAS | A Invasão

Durante os primeiros tempos da recente pandemia da covid-19, recuperaram-se todos os filmes sobre emergências médicas do género, como o Contágio ou o Outbreak – Fora de Controlo. Até me lembro de ir ver o Variola Vera, a história verdadeira do caso de varíola que isolou Belgrado durante dias, nos anos 70. E, no entanto, parece que ninguém se lembrou de recuperar A Invasão, aquele que foi o primeiro filme americano do alemão Oliver Hirschbiegel após o sucesso de A Queda – Hitler e o Fim do terceiro Reich.

A Invasão é o quarto remake que do clássico a ficção-científica Invasion of the body snatchers, mas que troca os alienígenas verdes que chegam à Terra em discos voadores por criaturas unicelulares. Ou seja, vírus que, em vez de assumirem a forma idêntica dos humanos, os transformam em invólucros ambulantes sem expressão e sem emoções, que se comportam como autómatos.

Agora, alguns anos após a covid, é curioso ir reler o que Roger Ebert escreveu na altura sobre o filme. Em 2007, o crítico lembrava que Invasion of the body snatchers era sempre uma metáfora para qualquer coisa. o filme original era sobre o mccarthismo, o dos anos 70 era sobre Watergate e o de Abel Ferrara era sobre a sida. E este? Aparentemente era sobre nada. Afinal, A Invasão estreava cedo de mais, antecipando em mais de uma década a pandemia que haveria de vir. E, agora, pode ser visto como premonição, ficando o texto de Ebert completamente desactualizado.

Na verdade até parece que A Invasão queria ser um comentário à guerra no Médio Oriente e à ameaça atómica e das armas de destruição maciça, já que se ouvem várias notícias sobre o assunto, de quando em vez, da rádio e na televisão. Só que Oliver Hirschbiegel nunca tem absolutamente nada a dizer sobre o assunto. É que A Invasão é uma trapalhada monumental, que parece escolher sempre a direcção errada a seguir. Consta que os produtores não gostaram do cut final do alemão e contrataram as manas Wachowskis para reshoots, o que tornou tudo ainda mais confuso. Como seria de esperar, aliás.

A Invasão é então a história de um vírus invasor que chega à Terra a bordo de um dos satélites norte-americanos e que, rapidamente, se transmite viralmente pela população através de gotículas (onde é que eu já visto?), controlando-a para uma espécie de invasão silenciosa. Nicole Kidman, psicóloga, mais o seu amigo médico (Daniel Craig), rapidamente vão perceber o esquema dos alienígenas e, com a ajuda de um terceiro médico, Jeffrey Wright (que, em menos de 24 horas, identifica os sintomas, isola o vírus e descobre uma vacina(!), apenas com um microscópio e o laboratório do hospital local), vão impedir o ataque, ao mesmo tempo que Kidman tenta recuperar o filho que fora raptado pelo ex-marido-agora-controlado-pelo-vírus.

Para passarem despercebidos entre os alienígenas e parecerem que já estão infectados, Nicole Kidman e Daniel Craig não podem demonstrar emoções nem expressões faciais, o que, diga-se de passagem, não é propriamente difícil para a primeira. Por isso, A Invasão desenrola-se rapidamente até à cura final, com muitos trambolhões pelo caminho e mais baixos do que altos. Pouco mais do que um desperdício de tempo e um Happy Meal.

Título: The Invasion
Realizador: Oliver Hirschbiegel
Ano: 2007

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