| CRÍTICAS | Conclave

Praticamente toda a gente que estiver a ler este texto se lembra, pelo menos, do último conclave que aconteceu. Afinal de contas, o Papa Francisco só está no cargo há uma dúzia de anos. Enquanto os cardinais se reuniam no Vaticano para escolher o novo representante do mundo católico (apostólico romano, claro), os fiéis amontoavam-se todos os dias na praça de São Pedro e as televisões empilhavam-se em directo para observar uma chaminé: se saísse fumo branco, era sinal que estava tomada uma decisão por maioria e havia um novo papa; se saísse fumo preto, então não tinha havido consenso e a decisão ficava adiada por mais um dia.

Conclave, o trabalho de Edward Berger nomeado para o Oscar de melhor filme, é, como o título indica, uma história em redor de um conclave para decidir o novo papa, depois da morte imprevista do último, por ataque cardíaco. Caso não tenham percebido muito bem do que se trata, o conclave é então o encontro de todos os cardeais em funções no Vaticano, onde ficam reunidos em retiro sem contacto com o mundo exterior, até decidirem por maioria quem é que vai ocupar o cargo mais alto da igreja católica. Para isso, há uma votação diária, enquanto que nos bastidores se desenrola o jogo político das influências e dos lobbies.

Conclave é assim um thriller político, situado no seio do Vaticano, que utiliza os códigos do género numa contexto pouco visto. Quer dizer, pelo menos no mundo católico, já que em 2023 vimos nas salas um filme muito parecido. A Conspiração do Cairo está para o mundo islâmico, assim como Conclave está para o católico: uma intriga política sobre os bastidores da escolha do novo imã, o líder espiritual dos sunitas.

No entanto, enquanto que A Conspiração do Cairo lembrava mais o tom paranóico dos filmes políticos de Hollywood dos anos 70, Conclave está mais próximo dos mistérios de Agatha Christie, com tantos segredos no armário que vão sendo revelados aos poucos e poucos. Ralph Fiennes, no seu estilo enxuto e sempre impecável (e bem secundarizado por John Lithgow e Stanley Tucci), é o dínamo do filme, que vai fazendo o argumento se desenrolar e se revelar cada vez mais complicado do que parecia ao início.

Quanto a Edward Berger, filme Conclave com grande respeito pelo protocolo da igreja, tirando o proveito visual de uma iconoclasta que é visualmente poderosa. No final, há ainda tempo e espaço para tirar um coelho da cartola: um twist daqueles que pode arruinar um filme, quase, quase a tombar para o espertalhão. Mas Conclave aguenta-se e chega ao final coo um sólido McBacon.

Título: Conclave
Realizador: Edward Berger
Ano: 2024

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