
Aos 57 anos, Pamela Anderson parece estar a viver uma nova fase na sua carreira. Depois de anos em que viveu da imagem de bomba sexual e, consequentemente da sua objectificação, Pamela ainda teve que lidar com o estigma da sua sextuple com Tommy Lee, que a há de perseguir para sempre. Agora, a série Pam & Tommy procurou que recuperasse o seu próprio lugar nessa história, o documentário Pamela – Uma História de Amor dá-lhe uma nova perspectiva e até a sua imagem actual, em que recusa qualquer tipo de maquilhagem em nome da consciencialização para a imagem da mulher, têm-lhe dado uma renovada força.
The Last Showgirl, a sua primeira longa em mais de duas décadas, poderá ser então o empurrão decisivo para se tornar numa actriz a sério, que não se limite a ser um símbolo sexual. Longe vão os tempos de Barb Wire – Bela e Perigosa, o série b todo ele construído em redor das suas curvas a bambolearem-se em cabedal justinho. Em The Last Showgirl, Pamela Anderson apresenta-se como actriz com A maiúsculo.
Pam é então a mais antiga dançarina de um espectáculo de variedades decrépito de Las Vegas, a queimar os últimos cartuchos após 30 anos de apresentações interruptas. Pamela Anderson é o rosto de um tempo que está prestes a encerrar-se, depois dos novos donos do casino anunciarem que vão antes apostar noutros espectáculo circense. Tal como a Norma Desmond de Crepúsculo dos Deuses, Pamela continua a viver num mundo de conto de fadas, à sombra de uma fama e glória que já não existem. E, por isso, o choque com a realidade irá ser tão duro quanto inevitável. Só falta sabermos quando é que isso vai acontecer.

The Last Showgirl é a história desse choque anunciado. Sentamo-nos e limitamo-nos a esperar. Pamela é o centro do filme, em redor do qual gravitam todos os secundários: as dançarinas mais novas (Kiernan Shipka e Brenda Song), que a vêm como uma figura protectora e maternal; uma Jamie Lee Curtis impecável, enquanto ex-dançarina com um problema com o jogo, que é a sua companheira de armas; Dave Bautista, o director do espectáculo que lhe ampara os golpes; e, depois, uma filha já adolescente, que vem reclamar a mãe ausente.
É impossível que o filme não ressoe pela realidade e não encontremos eco daquela ingénua sonhadora na própria Pamela Anderson. Claro que isso só acontece porque ela se mostra vulnerável e o permite. Isso faz com que The Last Showgirl esteja para Pamela assim como O Wrestler estava para Mickey Rourke. E é isso que permite ao filme funcionar.
É que, de resto, The Last Showgirl acaba por se revelar curto. É certo que Gia Coppola (sim, o apelido não engana) filma-o com grande nostalgia, de quem andou a estudar arduamente os filmes da tia Sofia e os de Sean Baker, mas o argumento não faz jus às suas personagens. Veja-se, por exemplo, o sub-plot com a filha, que nunca ganha profundidade ou peso para além de uma certa ideia de aproveitamento fácil. Por isso, ele é um Cheeseburger inteirinho para Pamela Anderson, que é aliás a única razão para este filme existir.

Título: The Last Showgirl
Realizador: Gia Coppola
Ano: 2024