
Eis o final do último (leia-se o mais recente até há data) episódio do franchise Missão Impossível, que se tornou no parque de diversões privado de Tom Cruise. De filme para filme, as missões estão a tornar-se cada vez mais… impossíveis(lol) e Tom Cruise (juntamente com o seu parceiro de armas, o realizador Christopher McQuarrie) vai fazendo acrobacias mais arriscadas. É assim que vamos identificando cada um dos filmes. Aqui, a grande atracção do Tom Cruise Private Theme Park é uma perseguição de avião, com o próprio a saltar de ultraleve para ultraleve.
No entanto, a grande surpresa é que, pela primeira vez, Missão Impossível – O Ajuste de Contas Final surpreende pela negativa. Contra todas as expectativas, o franchise tem-se mantido como um dos mais saudáveis da indústria recente de Hollywood, equilibrando entretenimento com uma ideia mínima de cinema. Mas isso desaparece por completo aqui.
São duas as razões para o fiasco. A primeira tem a ver com a própria dinâmica. Se viram (e se se lembram) da primeira parte deste tomo, Missão Impossível – Ajuste de Contas, a grande ameaça que Tom Cruise tem que enfrentar é uma entidade de inteligência artificial tão poderosa quanto omnipresente. Ou seja, é difícil fazer um filme em que o vilão pertence ao domínio do imaterial. Missão Impossível – O Ajuste de Contas Final torna-se assim num filme extremamente palavroso, para descrever tudo aquilo que não pode ser colocado por imagens.

A segunda razão para o descalabro tem a ver com a ascensão crística de Cruise. De filme para filme, tem-se tornado cada vez mais no salvador, até chegar a esta posição messiânica. A entidade de IA é tão poderosa que é disputada por todas as potências mundiais, mas apenas Tom Cruise é puro. suficiente para a destruir de forma altruísta. Missão Impossível – O Ajuste de Contas Final tornou-se no evangelho de Tom Cruise e todos os secundários (Ving Rhames, Simon Pegg, Ayley Atwell…) são apenas os seus discípulos, que não estão ali para o auxiliar, mas apenas para ampliar a sua palavra e garantir que esta chega ao máximo número possível de pessoas. E, nesse sentido, McQuarrie é a pedra fundadora da sua igreja.
Assim, Missão Impossível – O Ajuste de Contas Final serve para fechar o círculo, mas é altamente insatisfatório. Quase que nem é reconhecível o próprio franchise, com a theme song de Lalo Schifrin quase sumida e apenas uma breve cena com máscaras só para cumprir as quotas mínimas. Este Missão Impossível é um desapontaste Happy Meal.

Título: Mission: Impossible – The Final Reckoning
Realizador: Christopher McQuarrie
Ano: 2025