| CRÍTICAS | Karate Kid – Os Campeões

Já houve várias tentativas de capitalizar o sucesso improvável de Momento da Verdade, mas nunca ninguém quis saber. As duas sequelas, incluindo uma com o próprio Ralph Macchio e Pat Morita, são mais ou menos descartáveis e o reboot, com Jackie Chan e o filho de Will Smith, passou tão despercebido que a maior parte das pessoas nem deve ter dado conta que existe. Até que surgiu Cobra Kai e tudo mudou.

Cobra Kai, que se estendeu por 6 temporadas, foi buscar os actores originais do filme de 84 e, 30 anos depois, retoma o espírito de Momento da Verdade, com todas as dores de crescimento. E essa viagem pela memory lane foi o grande trunfo da série. Por isso, eis Karate Kid – Os Campeões, nova sequela que procura surfar essa onda de nostalgia, mas com um twist. É que o realizador Jonathan Entwistle procura abraçar também com o mesmo gesto o reboot de 2010, cruzando Jackie Chan com Ralph Macchio com um novo herói: Ben Wang.

Ben Wang é então um adolescente chinês que se muda para Nova Iorque, depois da mãe arranjar um novo emprego no hospital local. Eis então a premissa da grande maioria dos sucessos dos anos 80 (incluindo o próprio Momento da Verdade): o do jovem deslocado, que tem de se integrar numa nova comunidade. Ben Wang já sabe kung fu (e com o seu aspecto de boneco de borracha, que se farta de levar pancada para cair e rapidamente se levantar para levar mais, faz lembrar um jovem… Jackie Chan), mas não só prometeu à mãe que não voltaria a lutar, como tem um trauma com a morte do irmão mais velho, que o leva a bloquear nos momentos da verdade.

Há duas histórias em Karate Kid – Os Campeões. A primeira tem a ver com Wyatt Oleff, um jovem lutador de um ginásio local, que vai ser o bully de serviço e que o irá desafiar para participar num torneio local (onde é que já vi isto?). E a segunda tem a ver com Joshua Jackson, o dono da pizzaria do bairro (e pai deSadie Stanley, o interesse romântico de Ben Wang… e Wyatt Oleff), que precisa de aprender a lutar e que vai pedir ajuda ao próprio Wang. No fundo são duas histórias que se cruzam, mas que não têm tempo para se desenvolverem, o que faz com que estejam presas por milhentas coincidências, que não ajudam nada à suspensão da descrença.

Depois lá vem Jackie Chan da China para treinar Ben Wang e, por qualquer motivo obscuro, vai pedir ajuda a Ralph Macchio(!). Já estamos com 1 hora de filme quando LaRusso entra em cena, o que significa que não vai haver muito tempo de cena. Há sobretudo várias montages, onde a química com Jackie Chan faz lembrar os melhores momentos slapstick da carreira inicial do primeiro, reclamando um outro filme apenas com eles os dois.

Inexplicavelmente, Karate Kid – Os Campeões espreme isto tudo em apenas hora e meia de duração, o que não deixa de ser surpreendente tendo em conta que todos os blockbusters da actualidade parecem ser todos intermináveis. Essa capacidade de compressão, aliada a uma tonelada de clichés do género (e um golpe final tão inconsequente quando inexplicável, que Ben Wang tem que treinar até à exaustão no metro de Nova Iorque(!)) e a uma falta de alma atroz, como se tudo tivesse sido escrito e filmado a partir das instruções de um qualquer algoritmo de inteligência artificial para gerar blockbusters ao metro, torna rapidamente Karate Kid – Os Campeões num filme dispensável. Não há Cobra Kai que safe este Happy Meal, que é mais um episódio pífio do franchise Momento da Verdade.

Título: Karate Kid – Legends
Realizador: Jonathan Entwistle
Ano: 2025

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