| CRÍTICAS | O Amador

A droga que o pessoal em Hollywood toma antes de irem para as reuniões onde decidem que filmes vão fazer deve ser óptima. Só isso pode explicar que tenham decidido fazer um filme em que um hacker nerd pede à CIA para o treinarem, para que ele possa ir matar os terroristas que assassinaram a sua esposa – e eles aceitam(!) -, não uma, mas duas vezes(!!). Sim, é que O Amador, o novo filme de Rami Malek, é um remake de O Espião Implacável, de 1981, que já na altura não tinha deixado boas memórias a ninguém.

Rami Malek é então o tal maluquinho dos computadores, que trabalha para a CIA. Na mesma semana em que descobre uns papeis secretos que mostram que a agência norte-americana tem encoberto publicamente uns ataques de drone a alvos aliados, a sua esposa é assassinada por terroristas que a levam como refém num ataque em Londres. Malek utiliza então a informação obtida inicialmente para chantagear os seus patrões: ou o treinam para se tornar numa máquina de matar e ele ir vingar-se dos terroristas ou ele mete a boca no trombone. Sem pestanejarem, a CIA diz que sim e manda-lhe o Laurence Fishburne, com a sua experiência vasta em filmes de espionagem.

A premissa de O Amador já é má, mas o pior no filme de James Hawes é a sua falta de gosto. O Amador é um pastelão sensaborão, sem alma e sem qualquer pingo de estilo, com um Rami Malek a esforçar-se para não ter qualquer carisma. É certo que faz parte da essência da sua personagem ser um assassino sem vocação, com a consciência a atrapalha-lo constantemente, mas Malek confunde seriedade com sisudez, afundando-se numa interpretação amorfa e anónima.

Perante tanta falta de savoir faire, resta-nos então concentrar-nos na intriga. Mas tal como a premissa, o argumento de O Amador é meio risível. Como qualquer filme de espiões, há aqui muita cambalhota e traições duplas, mas tão mal escritas que é difícil manter a suspensão da descrença. Ao menos, O Espião Implacável ainda fora feito em plena Guerra Fria, tendo um contexto sócio-político que o suportava. Aqui, há apenas umas menções pela rama a países do Médio Oriente para ilustrar a tal amostra de trama política.

Por isso, não é fácil seguir O Amador com grande interesse, à medida que Rami Malek vai viajando facilmente pelo mundo fora, mesmo sendo perseguido pela CIA e pelos maiores terroristas do planeta, e vai matando da forma mais espampanante possível os homens (e mulheres) responsáveis pela morte da sua esposa. Um deles, Marc Rissmann, morre quando Malek explode com a piscina suspensa no topo de um hotel de luxo e cai tudo por ali abaixo. Não podia ser mais subtil. E, no final, quando Malek confronta finalmente o tipo que puxou o gatilho, a consciência fa-lo magicar um plano ainda mais elaborado para. entregar à justiça, já que ele não é um tipo amoral como os terroristas que mataram a sua mulher. Apesar de já ter morto dois deles, ambos com requintes de malvadez. Agora a sério, digam-me lá quem é que aprovou mesmo este Happy Meal?

Título: The Amateur
Realizador: James Hawes
Ano: 2025

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