
Quem diria que o homem por trás das trips piscadélicas de A Vida não é um Sonho, as viagens existenciais de The Fountain – O Último Capítulo ou os épicos bíblicos (e cheios de monstros de pedra(!)) de Noé iria querer fazer agora um simples thriller de gangsters? Era precisamente o que o mundo precisava, de mais um Guy Ritchie.
Brincadeirinha, claro. Darren Aronofsky tem legitimidade para fazer os filmes que bem entender. E, depois do drama de A Baleia, parece ter querido descansar e fazer algo mais levezinho. Apanhado a Roubar é então um thriller estilizado, cheio de personagens bizarras, uma trama cheia de cambalhotas à frente e à retaguarda, violência e humor negro. Sim, Apanhado a Roubar é mais um dos descendentes de Quentin Tarantino, que proliferaram no pós-Pulp Fiction.
Austin Butler é então o protagonista, em redor de quem se vão desenrolar os vários fios com que se tece esta trama. Butler é um jovem com uma vida aparentemente descomplicada: um emprego sem grandes responsabilidades atrás do balcão de um bar, uma namorada bonita (Zoë *suspiro* Kravitz) e um apartamento só para ele. Tudo isto permite-lhe ter uma existência descontraída, onde as únicas preocupações passam por manter o frigorífico sempre atestado de álcool e ver se os Giants se safam nos playoffs de basebol.

Até que um dia, o vizinho do lado – um irreconhecível Matt Smith, um punk de carregado sotaque inglês e crista colorida bem montada – pede-lhe para cuidar do gato enquanto vai a Londres visitar o pai, que teve um enfarte. Nada disto parece grave, mas logo a seguir aparecem dis mafiosos russos, depois uma polícia corrupta, mais um salvadorenho com uma permanente de gosto duvidoso e ainda dois judeus com dedo leve no gatilho. Todos eles procuram Matt Smith (ou, pelo menos, algo que ele parece guardar) e as consequências acabam todas por recair sobre Butler.
Apanhado a Roubar monta assim um daqueles thrillers complicados e cheios de situações caricatas, que quanto mais o protagonista tenta resolver, mais o nó se aperta. Para dar cor a tudo, Aronofsky enche a história de personagens bizarras, hiper-estiliza a violência para que esta seja sempre mais irrisória do que real e salpica tudo com um humor parvo. E, claro, filma a mil à hora, tentando deixar-no a cabeça constantemente à nora com revelações e twists constantes.
Não há nada de novo em Apanhado a Roubar (a não ser os rumores de possíveis nomeações aos Oscares) e já houve muito boa gente a fazer carreira com este sub-género, do já mencionado Guy Ritchie a Tony Scott. A grande vantagem aqui é que Aronofsky rodeia-se de um elenco de primeira linha, com Austin Butler a assumir-se como um dos principais nomes da sua geração.
Depois há de chegar a uma altura em que Apanhado a Roubar já não tem mais para onde ir e começa a abusar o bodycount, mas felizmente este é um filme curto, que não chega a provocar fastio. Entretém, que é a sua única missão, mas não ficará para os anais da filmografia de Darren Aronofosky. Mesmo assim, já lhe vimos coisas bem piores do que este McChicken (o Noé o quê?).

Título: Caught Stealing
Realizador: Darren Aronofsky
Ano: 2025
