
Imaginem um acontecimento traumático tão forte que, de repente, vêem um cão cego carregado de carraças, que as sacode para cima de vocês. É isso que acontece a Eva Green, logo no início de Nocebo, quando recebe um telefonema com más notícias.
Não sabemos que noticias são essas até bem perto do final, já que isso é a pescadinha de rabo na boca que vai permitir destapar o twist final que sustenta Nocebo. Mas o realizador Lorcan Finnegan vai tentando deixar várias pistas ao longo filme, através de breves flashbacks que, ao início, parecem não ter nada a ver e, no final, parece que estamos no início. Também o título, Nocebo, é uma pista importante para perceber o filme, mas nunca nos explicam o seu significado. Eu, pelo menos, tive que ir ao Google ver o que significava: nocebo é o oposto de placebo, um efeito psicológico negativo de alguém que acredita piamente estar a adoecer por qualquer razão.

Por tudo isso, os sintomas e os espasmos que Eva Green vai tendo parecem ser apenas psicossomáticos, até porque há vários pesadelos com carraças gigantes. Mas também há uma ferida na nuca, provocada por uma. Para baralhar ainda mais as contas, ainda surge em casa uma empregada filipina (Chai Fonacier) que ninguém se recorda de ter contratado. Às suas faculdades impecáveis de fada do lar juntam-se ainda umas habilidades xamânicas, que perpetuam aquele estereótipo do oriental mágico.
Nocebo é assim um thriller psicológico que faz lembrar outros primos próximos, como Repulsa. No entanto, o argumento de Nocebo é bem mais frágil, parecendo por vezes estar apenas a ser estranho para ampliar o efeito de confusão, o que se torna inevitavelmente gratuito. Mas o pior é mesmo o twist final, que vem carregado de uma espécie de moral do salvador branco. Não é um mau Cheeseburger, mas também já vimos muito melhor dentro do género.

Título: Nocebo
Realizador: Lorcan Finnegan
Ano: 2022