| CRÍTICAS | Shutter Island

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Existem três tipos de filmes: aqueles que, quando estreiam, são grades sucessos de popularidade, com grande adesão do público e, normalmente, arrecadando alguns Oscares, para logo depois desaparecerem da memória colectiva, exceptuando quando vamos ao Jumbo e damos a volta aos DVD em promoção a 1 euro; aqueles que, quando estreiam, passam despercebidos ou são arrasados pela crítica, ganhando uma segunda vida mais tarde, principalmente graças à internet, que os leva, a pouco e pouco, a adquirirem uma certa aura de culto; e todos os outros.

Shutter Island pertence a esses segundos. Quando estreou foi recebido com moderado entusiasmo, tanto pelo público como pela crítica especializada, mas nos últimos anos uma vaga de fundo tem contribuído para consolidar o seu estatuto de filme incompreendido. O que é um conceito espectacular; ser incompreendido significa mais ou menos que é um filme que a maioria das pessoas é estúpida demais para perceber. O que é certo é que, da já longa parceria entre Martin Scorsese e Leonardo DiCaprio, Shutter Island é o único que não teve nomeações da Academia. O que pode não querer dizer nada ou querer dizer muita coisa. Por isso, chega a vez do tira-teimas final e de apresentar o veredicto desta vossa imodesta casa cinéfila.

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Leonardo DiCaprio é então um polícia que, juntamente com o seu novo parceiro, Mark Ruffalo, vai investigar o desaparecimento misterioso de uma doente numa ilha-prisão ao largo de Boston. Shutter Island é um hospital psiquiátrico e prisão de alta segurança para os mais perigosos criminosos da América, de onde é impossível escapar. Mas é também um lugar tenebroso, cheio de medidas de alta segurança (e algo paranóicas), médicos suspeitos, muitos guardas armados e algumas técnicas médicas duvidosas. Por isso, mais do que um Voando Sobre um Ninho de Cucos, Shutter Island é mais uma Ilha do Doutor Moreau.

Shutter Island tem pouco do cinema cocainado de Martin Scorsese. O realizador contém-se aqui, inspirando-se nos mistery movies da década de ouro de Hollywood, talvez ainda marcado pelo espírito de Alfred Hitchcock, que havia emulado na sua curta anterior, The Key To Reserva (vénias, muitas vénias a isto). No entanto, a referência mais óbvia é ao giallo italiano, nomeadamente a Dario Argento ou Mario Bava. Vemos na paranóia claustrofóbica de Shutter Island o barroco perturbador de Suspiria, por exemplo.

Leonardo DiCaprio é então o leitmotiv do filme, à medida que vai descobrindo pontas soltas em todo aquele processo. O problema é que topamos a milhas onde é que aquilo vai parar: a um daqueles twists pelos quais M. Night Shhyamalan saliva nos seus melhores sonhos. Scorsese tem um mcguffin nas mãos com que se diverte a jogar – são os flashbacks do passado traumático de DiCaprio, com uma esposa morta num incêndio e um passado na Segunda Guerra Mundial, que incluiu a libertação de Dachau -, mas vai criando um elefante demasiado grande que, quando chega a altura de o enfiar no filme, ele não vai caber. Para que o twist faça sentido, é necessário esticar demasiado a corda e forçar em demasia a credibilidade.

Com uns vinte minutos a menos, Shutter Island teria tido muito a ganhar. Obviamente que ter Martin Scorsese em exercício de estilo, com um Leonardo DiCaprio em estado de graça, é sempre agradável de se ver, mas Shutter Island, infelizmente, não tem nada de filme de culto como nos querem impingir muitas vezes na internet. Saibamos distinguir as coisas: Shutter Island é um McChicken, é certo, mas porque sai sobrevalorizado pela dupla Scorsese/DiCaprio.mcchickenTítulo: Shutter Island
Realizador: Martin Scorsese
Ano: 2010

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