| CRÍTICAS | Inocente ou Culpado?

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Antes de ser reconhecido como um estadista implacável e sem olhar a meios para, graças ao biopic de Paulo Portas House of Cards, Kevin Spacey destacou-se no cinema enquanto mestre da mentira e do engano, cortesia do seu Kayser Soze. E foi essa reputação que lhe abriram as portas de Inocente ou Culpado?, um filme normalmente esquecido na sua filmografia.

Spacey é então o David ale do título (o original, claro), um professor de filosofia, activista pela abolição da pena de morte no Texas e com uma ligeira queda para a pinga. Depois de uma falsa acusação de violação, que o levam a uma espiral de desgraça graças à equação divórcio + despedimento + álcool,Gale é condenado à morte pelo assassinato brutal da sua melhor amiga (Laura Linney). O que não deixa de ser irónico, ter o maior activista contra o abolicionismo a vir a ser executado.

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Kate Winslet é então uma jornalista que o vai entrevistar a três dias da sentença. Tempo suficiente para perceber que há várias coisas mal contadas naquela história. Mas será tempo suficiente para descobrir a verdade e, quiçá, inocentar David Gale? Entra-se então num thriller contra o tempo, cheio de alapões e jogos de espelhos, que desde o primeiro minuto nos alertam para o inevitável twist final que nos aguarda impaciente para se esfregar na nossa cara.

Ao mesmo tempo que Winslet procura colocar tudo em pratos limpos, vemos Gale contar a sua versão dos factos, nos flashbacks com as cenas de transição mais ridículas da história das cenas de transição (a piscar, com intratítulos e ruídos manhosos). Pela temática do filme de tribunal e pelo tal twist final, é impossível não comprar Inocente ou Culpado? a A Raiz do Medo, mas numa versão mais bruta e menos subtil.

Spacey faz estes papeis de parecer uma cosia para ser na verdade outra com uma perna às costas e isso faz Inocente ou Culpado? rolar suavemente, sobre rodas, mesmo quando antecipamos o wist final a milhas de distância. De início ainda há Rhonda Mitra absolutamente deslumbrante, que só apetecer fazer rewind vezes sem conta, que ajuda a manter-nos atentos. Mas depois há um problema grande (grande? gigante!), que levou inclusive Roger Ebert a indignar-se e a dar-lhe uma das suas raras classificações de zero estrelas. É que Inocente ou Culpado? é moralmente desonesto. Ao ser um filme anti-pena de morte (ou pró, tanto faz), acaba por passar a mensagem errada, de que a fraude e a mentira são aceitáveis, como se todos os fins justificassem os meios. Ou seja, se conseguir reprimir esta mensagem reprovável vão acabar por desfrutar calmamente de um McChicken.mcchickenTìtulo: The Life of David Gale
Realizador: Alan Parker
Ano: 2003

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