Não foi um ano fácil. Apesar de não ter visto muita coisa má, também não vi propriamente muita coisa boa. Foi, portanto, um ano assim-assim, com muitos filmes meh. Esta lista dos melhores filmes de 2016 foi, por isso, arrancada a ferros.
10º Lugar
Kubo e as Duas Cordas, de Travis Knight
Um pequeno estúdio começa a dar nas vistas. A Laika está a levar o stop motion para um patamar tecnico acima da média e alia isto a uma capacidade de contar histórias que a Disney ignora muitas vezes em detrimento da parte capitalista (vide Vaiana) e que a Pixar parece ter vindo a esquecer-se nos últimos filmes. E a partir de agora os desenhos-animados de shaolins deixaram de ser propriedade exclusiva do anime.
9º Lugar
Uma Nova Amiga, de François Ozon
François Ozon já foi a next big thing do cinema francês, mas agora é só mais um. Pelo menos para a crítica, porque o realizador francês parece estar a lixar-se para isso e continua a filmar com uma periodicidade tão regular quanto muda de registo. Agora, Ozon deu uma de Hitchcock e de Polanski, numa história de doppelgänger e de revolução sexual. Não é o melhor Ozon, mas mais vale um Ozon razoável do que a maioria das coisas supostamente boas que andam para aí.
8º Lugar
Salsicha Party, de Greg Tiernan e Conrad Vernon
Bastava dizer que Salsicha Party tem a mais longa orgia da história da animação(!) para fazer parte desta lista. E como bom desenho-animado que é, Salsicha Party segue à letra a tradição da antropormofização da Disney para fazer uma orgia de alimentos falantes(!!). Pode-se gostar ou não do que o grupo de Seth Rogen, Evan Goldberg e Jonah Hill faz, mas o que não se pode é dizer que não arriscam.
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7º Lugar
Experimenter, de Michael Almereyda
É uma das experiências sociais mais conhecidas do mundo e um daqueles micro-fenómenos da internet, que até já deu um episódio dos Simpsons: pede-se a uma cobaia para ir dando choques eléctricos numa terceira pessoa, aumentando a potência aos poucos, e vê-se até que ponto é que ele consegue ir. Na maioria dos casos, os testados foram até ao fim, ou seja, mataram a outra pessoa. Apesar de não ser uma experiência consensual entre a comunidade científica, serve para reflectir sobre a maldade, a autoridade e a correlação entre ambos. E serve para fazer este pequeno filme, que contorna o baixo orçamento com imaginação (e cenários projectos na parede) e que prova que para um bom filme é preciso uma boa história e não muito dinheiro.
6º Lugar
Deadpool, de Tim Miller
É o herói mais insolente da Marvel e um dos mais amados dos fãs. Por isso, Deadpool não podia falhar. E não falha! Basta ver que até nomeações aos Globos de Ouro teve (e vamos lá ver os Oscares). Deadpool segue a atitude descomprometida e pouco séria que tão bons resultados deu em Guardiões da Galáxia ou Homem-Formiga e ainda dá uma segunda oportunidade a Ryan Reynolds, naquela regra que diz que quem faz um mau filme de super-heróis, normalmente depois faz um outro bom.
5º Lugar
Quarto, de Lenny Abrahamson
Era o filme que devia ter ganho o Oscar no ano passado. Não venceu, mas ao menos ganhou o direito de fazer parte desta lista, o que é um importante marco no palmarés de qualquer filme. Esta versão realista de Canino, que remete para o caso verídico de Natascha Kampusch, é um filme claustrofóbico que deixa marcas durante umas boas horas após a sua visualização.
4º Lugar
A Toca do Lobo, de Catarina Mourão
É a surpresa desta lista. Um documentário que começa por ser sobre o escritor Tomaz de Figueiredo, avô da realizadora, mas que acaba por ser uma investigação sobre factos mal contados e uma reflexão sobre a relação entre a memória e o tempo. Catarina Mourão não se assusta com a existência de pouco material de arquivo e atira-se de cabeça a um filme que é ao mesmo tempo uma demanda pessoal.
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3º Lugar
A Lagosta, de Yorgos Lanthimos
Já tínhamos Yorgos Lanthimos debaixo de olho desde o abismal Canino. E A Lagosta, o seu primeiro filme para um grande estúdio, não desilude nem um bocadinho. Com um formalismo austero e quase minimal, o grego monta uma distopia absurda, onde os solteiros que não arranjam par são transformados num animal à sua escolha(!), só porque sim. E é do catano! Mesmo para quem não goste de filosofia existencial.
2º Lugar
Animais Nocturnos, de Tom Ford
Não tinha achado Um Homem Singular nada de especial. Por isso, o impacto de Animais Nocturnos foi ainda maior. Um verdadeiro choque de frente com a realidade. Tom Ford mantém o estilismo elegante do filme anterior (é a sua parte de estilista), mas dá-nos aqui um filme mais feio, mais duro e mais violento. Duas realidades espaciais diferentes, uma sobre uma curadora de arte da alta roda com uma crise de meia-idade e um conto gótico sulista sobre um homem que vê a família ser violada e morta por uns rufias na estrada, que dialogam entre si apesar de terem pouco a ver uma com a outra.
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1º Lugar
Os Oito Odiados, de Quentin Tarantino
Depois de um Django Libertado muito aquém do esperado, Quentin Tarantino mostra-nos que ainda não perdeu o jeito em mais uma obra-prima. Estamos habituados a vê-lo ir fazer copy-paste a décadas de história do cinema, por isso foi uma pequena surpresa ter aqui o seu primeiro filme súmula, em que se alimenta da sua própria filmografia: a estrutura em episódios de Kill Bill, a desfragmentação da linearidade narrativa de Pulp Fiction e a premissa do grupo de homens limitado a um espaço fechado de Cães Danados. Há ainda a música de Ennio Morricone, a primeira vez que Tarantino uma banda-sonora original, o habitual leque de actores acima da média e Jennifer Jason Leigh a levar na tromba como um dos duros.
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