| SÉRIES | Westworld

Há coisa de dois anos surgiu um vídeo que noticiava a criação de um cão-robot. Nesse vídeo era possível ver o cão-robot a subir escadas, a correr e a levar um pontapé reagindo mais ou menos como um cão reagiria: perdia o equilíbrio e tentava recompor-se. Na sequência desse vídeo, houve muitas pessoas a insurgirem-se contra o pontapé. Essas pessoas iriam adorar o Westworld.

Comecemos pela conclusão: Westworld é uma série má. É um pirete gigantesco. É um rei que vai nu. É uma amálgama inconsequente que pretende fazer passar confusão narrativa por profundidade filosófica.

Vamos lá por partes. Uma série como esta apresenta-se para competir com as grandes ombro a ombro mas, para isso, precisa de ter uma boa história, boas personagens e boa representação. Procurei por estas coisas em todos os episódios da primeira temporada e não encontrei nenhuma. Na representação, para além de uma duas prestações assinaláveis (destaque para Jeffrey Wright como Bernard Lowe), temos essencialmente um Anthony Hopkins a fazer de Anthony Hopkins em ponto morto e a cavalgar a sua própria lenda, uma Evan Rachel Wood com cara de coitadinha e uma série de outros actores a gostar muito de alternar entre robots sem sentimentos e pessoas com sentimentos extremos porque lhes dá oportunidade para mostrarem toda a sua plasticidade representativa.

Depois temos as personagens. À medida que a história vai avançando, o enredo vai-se concentrando cada vez mais nas personagens não humanas, o que dá à série uma fraqueza inultrapassável: é sobre máquinas que não morrem. Dêem as voltas que dêem, uma máquina que não morre é uma personagem sem qualquer tipo de interesse porque não tem nada a perder, não pode ter nada a perder (ainda que um algoritmo a faça parecer-se com alguém que tem algo a perder) porque, atenção a isto!, não é uma pessoa.

E isso leva-nos ao problema da história. Westworld é sobre um parque temático povoado por máquinas humanoides que estão ao dispor dos seus utilizadores para tudo e mais alguma coisa: histórias de amor, caças ao tesouro, homicídios violentos, violações, tudo. A vantagem do parque temático é que as máquinas, sendo máquinas, vão para a oficina e, no dia a seguir, lá estão, prontas para servir os desejos dos humanos. A premissa central da série (quem não viu provavelmente vai querer saltar esta parte) é de que se se fizer uma máquina suficientemente parecida com um ser humano (fisicamente, porque o espectador precisa que a máquina chore quando sente tristeza, caso contrário, não resulta) e se lhe juntar três ingredientes (a saber: memória, capacidade de improviso e sofrimento), ela ganha consciência de si e livre arbítrio e torna-se, assim, humana. O problema é que uma máquina é uma máquina e não há volta que resolva este problema. Ver uma máquina muito desesperada por se lembrar das vezes que foi chacinada em “vidas passadas” e sentir empatia é como sentir empatia com o tal cão-robot que é pontapeado.

Os humanos aqui são desumanizados. Não se vê um único que evolua o que quer que seja em toda a série excepto, talvez, Felix Lutz, a personagem mais interessante e mais desperdiçada da série. Sim, há também William, mas o grau de moralidade e sonsice da personagem logo no início tornam o seu destino tão óbvio que não conta. Pelo contrário, é nas personagens não humanas que se vê toda a evolução, como se fosse expectável que nos preocupássemos com os sentimentos artificiais de uma máquina. E é então que, na falta de uma história verdadeiramente interessante, Westworld tenta compensar baralhando a sequência cronológica e enchendo o guião de frases vagas que tentam fazer passar por profundidade filosófica.

Fora a beleza cénica e um ou outro momento, há muito pouco nesta série que valha todo o furor à sua volta. Mas isto digo eu, que não gosto do Game of Thrones. Mas gosto moderadamente de Happy Meal.

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