Por mais parolo que seja, é impossível não sentirmos qualquer coisa quando há alguma referência a Portugal num filme de Hollywood. Todos nós sabemos que Indiana Jones e a Grande Cruzada começa ao largo do nosso país, que John Travolta fala português em Fenómeno ou que Richard Gere tece loas a Dulce Pontes em A Raiz do Medo. Por isso, independentemente de tudo o resto, é impossível não querermos ir ver Os Olhos de Minha Mãe quando sabemos que a protagonista é portuguesa (Kika Magalhães), que faz de portuguesa e, mais incrível ainda, passa o filme todo a falar português.
Os Olhos de Minha Mãe é um pequeno filme de terror, tanto em tamanho como em orçamento. É a história de Francisca (a tal lusa Kika Magalhães), que vive com os seus pais numa casa isolada no meio dos Estados Unidos. Eles são portugueses e a mãe até fala a língua, mas não dispensem as legendas. A pronúncia de Diana Agostini é terrível e até John Travolta o faz melhor. Outra coisa que aborrece é que, sempre que metem a Amália a rodar no gira-discos, vão todos dançar para o meio da sala(!). Se, no entanto, conseguirem abster-se destes dois pormenores, tudo o resto rola sobre rodas.
Os pais de Francisca acabam por morrer, de forma mais ou menos dramática, e Francisca fica portanto sozinha, naquela casa isolada algures. Esse desenraizamento é acentuado pelo preto e branco contrastado do filme, mas que não serve para acentuar as diferenças (difusas, muito difusas) entre o bem e o mal. É que as noções de moral de Francisca não são propriamente lineares, marcadas pela tragédia e pelo isolamento. Imaginem se Nell tivesse sido violada ou torturada e ninguém lhe dissesse que aquilo era anormal e ela absorvesse isso como valores naturais do ser humano.
Os Olhos de Minha Mãe é um claro primeiro filme, em que o realizador Nicolas Pesce experimenta uma série de planos que deve ter andado a magicar durante todo o curso de cinema e, finamente, teve oportunidade para os colocar em prática. Sempre mais próximo da sugestão do que do gore mais gráfico, Os Olhos de Minha Mãe não deixa de ser um filme perturbador, com momentos fortes de fazer desviar o olhar. E o facto de não ser uma história convencional, faz com que seja tudo menos previsível, levando-nos em descoberta de um dos melhores McRoyal Deluxes que iremos certamente provar este ano.Título: The Eyes of my Mother
Realizador: Nicolas Pesce
Ano: 2016
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