Michael Winterbottom é um realizador que tem construído um carreira ao mesmo tempo que utiliza o cinema para suprir desejos secretos e caprichos pessoais. Por exemplo, 9 Canções foi um pretexto para ir a concertos das bandas que gostava (e ver umas maminhas como bónus); Génova foi uma desculpa para ir passar umas férias a Itália; e A Viagem foi uma justificação fraca para ir com os seus amigos Steve Coogan e Rob Brydon comer à grande por Inglaterra.
Foi com Bem-Vindo a Sarajevo que Winterbottom começou esta estratégia. Em 1997, o realizador dá que falar em Cannes, com um filme rodado nos despojos de uma Sarajevo a tentar reerguer-se de quatro anos de cerco sérvio, criando um fresco baseado em factos reais – um grupo de jornalistas internacionais que tentam evacuar da Bósnia um grupo de crianças de um orfanato – recorrendo inclusive a imagens reais.
Existe um herói colectivo, deonde se destaca um Woody Harrelson insolente e temerário, mas é Sarajevo a verdadeira personagem do filme. A capital bósnia é peça fulcral na história do século XX, já que foi aqui que o século se iniciou (mais propriamente na esquina em que o nacionalista sérvio, Gavrilo Princip, alvejou o arquiduque Francisco Fernando) e terminou (com um cerco asfixiante do exército sérvio, que arrasou a cidade, não deixou um único vidro inteiro e matou milhares de pessoas). E Winterbottom utiliza-a como um espelho com as imagens reais que vai buscar à televisão e que, no início da década de 90, fizeram o dia-a-dia dos nossos noticiários.
Aliás, Winterbottom filma Bem-Vindo a Sarajevo com a câmara ao ombro e a mesma urgência da reportagem de guerra. Afinal de contas, foi nesta altura que as guerras passaram a decidirem-se nos ecrãs de televisão, à medida que eram transmitidas em directo. Ao mesmo tempo, isso confere ao filme uma espécie de estrutura coral, feita de pequenos mosaicos que nem sempre pertencem à mesma colecção. Afinal de contas, a estrutura narrativa nunca foi o forte de Michael Winterbottom.
Bem-Vindo a Sarajevo é um dos melhores filmes de um realizador que tem mais fama do que proveito, mas que nem por isso sabe mais do que um McBacon. A sua pertinência é sobretudo enquanto documento histórico, até porque Pontes de Sarajevo, filme colectivo que procurava celebrar o centenário do início da I Guerra Mundial, não conseguiu captar o espírito da cidade como seria suposto.
Título: Welcome to Sarajevo
Realizador: Michael Winterbottom
Ano: 1997