Na sua avidez habitual por remakes, sequelas e reboots, Hollywood parece ter descoberto um novo filão, como quem descobre a pólvora: os filmes de monstros. Depois de ter refeito (pela enésima vez) o Godzilla, chegou a vez do King Kong, o famoso macaco que vimos subir ao Empire State Building pela primeira vez no já longínquo ano da graça do Senhor de 1933. E daqui a um tempinho chega a vez dos dois se encontrarem. Por isso, quando terminar o filme, não se levantem logo e esperem pelo final dos créditos. Há uma cena escondida acerca disto.
E agora que começámos pelo fim, vamos lá então a Kong – Ilha da Caveira. Tendo em conta que Peter Jackson assinara um remake há apenas uma década atrás (o que, a bem ver, é uma eternidade para Hollywood), a opção foi apostar tudo no reboot. Assim, sem grandes referências ao que se passou nos anos 30, saltamos quarenta anos e aterramos nos anos 70, no exacto momento em que os Estados Unidos anunciam a retirada total do Vietname. Ao mesmo tempo, John Goodman convence o Governo a financiar-lhe uma expedição à Ilha da Caveira, o único lugar na Terra ainda por explorar, com o objectivo de descobrir qualquer coisa que lhes dê vantagem na Guerra Fria sobre a Rússia. No entanto, tendo em conta que Goodman pertence a uma agência governamental secreta que procura vestígios de monstros, percebemos logo que a viagem traz água no bico.
É então reunida uma equipa com tanto de eclética quanto de imprevista – representantes do governo, um batedor inglês expulso do exército pelos seus métodos pouco ortodoxos (Tom Hiddleston), uma fotojornalista sabe Deus a fazer o quê ali (Brie Larson), cientistas e uma equipa do exército, liderada por um Samuel L. Jackson que vai tentar encontrar naquela ilha um escape que lhe permita descarregar toda a frustração de uma guerra no Vietname perdida. Em pouco mais de meia hora estão todos atirados para o meio da ilha da Caveira e dão logo de caras com um macaco gigante: Kong, o grande King Kong, maior que nunca.
Temos então uma versão do Predador em modo filme de Vietname, com uma estranha obsessão pelo Apocalypse Now (o poster já evocava o filme de Coppola, há personagens chamadas Conrad e Marlow em referência ao livro de Joseph Conrad que deu origem a esse filme e muito rock’n’roll anti-Vietname na banda-sonora). No entanto, ao contrário do filme de Arnold Schwarzenegger, aqui não há qualquer escalada de tensão, já que o monstro é-nos logo apresentado. Isso não faria mal nenhum, se o objectivo fosse aproveitar o máximo de tempo possível para explorar as mil e uma formas de realizar um banho de sangue. Mas este é mais um blockbuster para toda a família e, por mais que se esforce, Kong – Ilha da Caveira nunca é tão violento quanto parece prometer, como se se retraísse sempre na hora h.
Depois, a referência a Predador vai-se embora e entra em cena todo o bestiário da ilha da Caveira, transformando os sobreviventes daquela expedição em descobridores à Parque Jurássico. E como não eram suficientes tantos animais gigantes (incluindo um polvo que, por momentos, faz parecer que vamos ter um Kong versus Kraken), vá de ir buscar a teoria da terra oca e trazer mais uns lagartos supervitaminados. Até porque Kong não podia ser um vilão e há que o pôr a salvar o dia, contra criaturas determinadamente mais malvadas, não vá alguém não perceber que esta é mais uma variação do bom selvagem. Ah, e esqueci-me de referir que entra ainda em cena uma tribo local e John C. Reilly, talvez porque o comic relief de Jason Mitchell não estava a resultar e era preciso fazer alguma coisa.
Há então personagens e subplots a mais para um filme sobre um macaco gigante. O que até seria problemático se Kong – Ilha da Caveira assumisse o seu legado xunga, de entretenimento puro. Mas como na maioria dos filmes-pipoca que Hollywood monta agora ao metro cá para fora, Kong – Ilha da Caveira desenvolve-se com uma sisudez de filme sério. O que não faz sentido nenhum tendo em conta que é a história de… um macaco gigante(!). Por isso, quando chega ao final já estamos a bocejar e a olhar para as horas, a pensar o que vamos fazer amanhã para o almoço. Um Cheeseburger que não nem sequer chega a ser salvo pelas sequências de proporções gigantescas de efeitos-especiais.Título: Kong: Skull Island
Realizador: Jordan Vogt-Roberts
Ano: 2017
eh pá.
peço desculpa, mas não me aguento.
é mais forte que eu, não posso deixar passar tamanha barbaridade incólume:
tecnicamente um gorila não é um macaco.
aliás, taxonomicamente, se considerarmos os gorilas como macacos, então temos que nos considerar a nós próprios macacos.
Como isto é a internet, isso faz com que tudo o resto da crítica esteja objectivamente errada. (que seca de filme, hein?)
Ahhh. Com essa explicação, o filme passa a fazer muito mais sentido.
Obrigado 🙂
PS – e onde é que o gorila gigante arranja bananas gigantes?