Depois de quatro sequelas manhosas (com a qualidade a diminuir exponecialmente à medida que avançam no tempo) e um remake igualmente duvidoso, já não faltava muita coisa a fazer a O Homem Que Veio Do Futuro. Apenas uma prequela que, quatro décadas depois, apresentasse o franchise às gerações mais novas, como quem diz este é um filme de culto que merece ser visto por toda a gente. Contudo, todos sabemos que, na verdade, o que os putos ouvem é havia um filme com uns tipos vestidos com fatos de macacos de borracha a falar que os velhos acham que é cool gostar.
O que é certo é que, tantos anos e tantas tentativas depois, O Homem Que Veio Do Futuro continua a não ter comparação possível com qualquer um dos seus primos. Por isso, a opção de fazer de Planeta Dos Macacos – A Origem um filme quase autónomo acaba por ser acertada. Quem conhece o original vai perceber como é que o chimapanzé Caesar deu origem a algo bem maior e quem não conhece vai ficar com a pulga atrás da orelha para ver os próximos. Sim, porque o franchise não fica por aqui e adivinham-se sequelas. Muitas sequelas.
Caesar é então um chimpanzé em CGI, com os movimentos e as expressões de Andy Serkis, que se anda a especializar em bonecos digitais depois de Gollum e do King Kong. Caesar desenvolve inteligência quase humana, depois de injectado por uma droga nova inventada pelo cientista James Franco, em busca desesperada pela cura para o Alzheimer, num conceito já visto em Perigo no Oceano. Contudo, enquanto neste os tubarões ficam a jogar às cartas, Caesar vai organizar uma rebelião contra os humanos, humilhado por ter sido abandonado pelo dono e por ser tratado como um mero animal de estimação.
Planeta Dos Macacos – A Origem é o filme ideal para aquele tipo de pseudo-intelectuais que vai ver a ralé toda ao cinema, mas que depois tem vergonha de assumir que gosta. Ah e tal, não gostei muito do King Kong, porque tinha um macaco gigante. Pois aqui não se podem queixar de falta de desenvolvimento emocional do macaco. A relação entre Caesar e James Franco é abordada ao detalhe, ficando a manipulação digital cingida à personagem do macacóide e aos seus saltos e cambalhotas. Ou seja, Planeta Dos Macacos – A Origem não é um simples filme de acção refém dos efeitos especiais. Tem mesmo uma história para contar (quanto à plausibilidade da mesma, isso sim, pode ser discutido), personagens à séria e depois sim, acção e ficção-científica a fazerem a ponte com o iconoclasta O Homem Que Veio Do Futuro, que homeageia com uma estátua da Liberdade de brincar e a repetição de algumas frases marcantes de Charlton Heston – Take your stinking paws off me, you damned dirty ape – enquanto tem o seu próprio momento uau, na Ponte de São Francisco.
Portanto, Planeta Dos Macacos – A Origem até é das melhores coisas que aconteceu a este franchise. Que outro blockbuster dos últimos, para aí vinte anos (de sempre?), tem a coragem de passar a maior parte do tempo sem diálogos, a observar apenas os macacos a agirem e a emanciparem-se? O filme sai assim vencedor, com um redondinho McBacon.Título: Rise of the Planet of the Apes
Realizador: Rupert Wyatt
Ano: 2011