Dirk Gently’s Holistic Detective Agency é nome de série que lhe dá, logo à partida, e só pelo seu brilhantismo, um estado de graça de 3 ou 4 episódios. Neste caso, não se sente sequer essa necessidade porque os primeiros episódios são exactamente os melhores. Imaginem uma mistura entre Wilfred (não só porque também tem o Elijah Wood, mas também, e principalmente, pelo tom e pelo constante vai-e-vem entre realidade e ilusão), 12 Macacos, Os Psico-Detectives e todos os filmes do Wes Anderson. É isso o Dirk Gently’s Holistic Detective Agency.
A série é vagamente baseada nos livros de Douglas Adams com os quais partilham o nome (que é, por sinal, brilhante), mas trazem para o ecrã o que só podia ser transmitido dessa forma. E esse é o maior trunfo desta série. Com todo o seu exagero, a sua patetice, a exigência de uma suspensão de descrença para lá dos limites do que é normal, a sua extravagância visual, a sua complexidade narrativa (por vezes forçada), episódio após episódio, consegue manter-nos interessados e, acima de tudo, entretidos.
É claro que não estamos perante a nova Sopranos ou The Wire – nem é esse o objectivo -, mas esta é a primeira série desde as primeiras temporadas do True Blood que consegue ver-se bem com o balde de pipocas na mão sem que, ao mesmo tempo, não sintamos a nossa inteligência profundamente insultada. A diferença é que, onde True Blood tinha o sexo como mecanismo de entretenimento, Dirk Gently’s Holistic Detective Agency tem, não só, um arco narrativo que ganha complexidade em cada episódio e só se resolve verdadeiramente no último, como tem também elementos de genuína surpresa que nos mantêm em bicos dos pés à espera do que vão sacar da cartola a seguir.
Sim, a fórmula dos parceiros relutantes com personalidades diametralmente opostas em que a maluquice de um ajuda a apatia do outro está já mais do que gasta, a personagem feminina comicamente descontrolada e violenta já tinha sido (mais eficazmente, diga-se) utilizada em SOS: Save Our Skins, os paradoxos das viagens no tempo não são propriamente novidade e as prestações dos actores não são sempre propriamente brilhantes (Jade Eshete tem alguns momentos embaraçosos). Ainda assim, Dirk Gently’s Holistic Detective Agency arranca-nos algumas risadas sinceras, sustém-nos a respiração durante alguns segundos e põe-nos a pensar depois dos créditos finais. Pena que, nos últimos episódios da primeira (e, até ver, única) temporada, as relações entre as personagens evoluam à martelada para terem como as manter juntas para uma próxima season. E pena também que não tenham dado ao final a mesma atenção que deram ao início (a arma do crime que abre a série é certamente das mais originais de sempre).
É que, no fim disto tudo, apesar de ter acabado cada episódio com vontade de ver outro, a queda de qualidade do último em relação aos restantes deixou-me sem grande vontade de ver a segunda temporada quando ela chegar. Mas acho que lhe vou dar uma oportunidade. Afinal de contas, com um nome deste, merece-o.