| CRÍTICAS | Alla Rivoluzione Sulla Due Cavalli

O filme começa e vemos um neon de um cinema a piscar, em italiano. Depois um plano mais aberto e vemos o cartaz do Alphaville, do Godard, em exibição. Em menos de um minuto estamos contextualizados: Itália, 1974. Mais tarde vamos ficar a saber que o dia é 25 de Abril e, para nós, essa data é especial. A escolha não é inocente.

Alla Rivoluzione Sulla Due Cavalli é um filme italiano sobre a revolução dos cravos. Não directamente, é certo, mas com maior pertinência do que a recriação enfadonha e mal dobrada de Maria de Medeiros, em Capitães De Abril. Alla Rivoluzione Sulla Due Cavalli é a história de Marco (Adriano Giannini), um português exilado em Itália mas que fala italiano fluentemente, que é contagiado pelas notícias da revolução em Lisboa e parte para Portugal num Citroën 2 Cavalos, com o seu melhor amigo (Andoni Gracia) e a ex-namorada (Gwenaëlle Simon).

Apesar de ser uma produção italiana, o realizador Maurizio Sciarra tem o cuidado suficiente para contextualizar a revolução que derrubou a mais longa ditadura da Europa. Para isso existem imagens de arquivo, noticiários da RTP, o Grândola, Vila Morena e transmissões radiofónicas, que fazem uma introdução para totós ao 25 de Abril. Mas também há uma série de mementos que tanto tiram a fotografia socio-cultural de Portugal, como vêm carregadas de nostalgia: um relato do Benfica contra o Vitória de Setúbal, com dois golos do Nené, a Amália (claro) ou…. novamente, o Benfica, desta vez a espetar 8 a 0 ao Oriental.

Mas Alla Rivoluzione Sulla Due Cavalli é um road movie e, como qualquer filme do género, é a viagem o que realmente interessa. O triângulo de protagonistas tanto serve para falar de coisas pessoais, como de politiquices e afins, acabando por descambar para a inevitável revolução sexual com uma ménage à trois. Nem Alla Rivoluzione Sulla Due Cavalli é o coming of age de E A Tua Mãe Também, nem é nenhuma sequela de um qualquer filme francês. Mas comparamo-lo com A Jangada De Pedra – outro road movie num 2 Cavalos por Portugal fora – e este ganha por capote. A viagem é bem mais interessante e, num par de pinceladas, diz mais sobre a identidade nacional do que toda a adaptação do livro-tese de Saramago.

No final, vemos Nuno Lopes a fazer de soldado e voltamos a questionar-nos: mas como é que nunca ouvimos falar deste filme em Portugal? Não é que saiba mais do que um McChicken, mas não atraiçoa o legado de Abril e capta melhor o entusiasmo da revolução que a maioria dos filmes portugueses sobre o assunto.Título: Alla Rivoluzione Sulla Due Cavalli
Realizador: Maurizio Sciarra
Ano: 2011

2 thoughts on “| CRÍTICAS | Alla Rivoluzione Sulla Due Cavalli

  1. Ando à procura deste filme há algum tempo. De vez em quando aparecem dvds à venda em itália, mas só com legendas (lá está) em italiano.

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