| CRÍTICAS | Em Busca da Cidade Perdida

A carreira de Jean-Claude Van Damme foi feita sempre com variações da mesma história, a saber: Van Damme é [inserir ocupação mais ou menos aleatória], alguém mata/deixa incapacitado [escolher a opção que melhor se adequa] um parente/amigo [novamente escolher a opção certa] e Van Damme vai vingar-se. Por isso, talvez cansado de estar a fazer o mesmo filme, Van Damme decidiu ele próprio realizar o seu own flick. E que decidiu ele então fazer? Refazer o único filme que, por acaso, não segue esta fórmula.

Em Busca da Cidade Perdida refaz assim Força Destruidora e até é co-escrito (num processo que foi parar aos tribunais para aferir quem escreveu o quê) pelo próprio Frank Dux, essa lenda das artes marciais que garante ser campeão do mundo de um torneio tão secreto que nem sequer existem provas disso. O que prova logo a falta de noção que Van Damme tem. A diferença é que Em Busca da Cidade Perdida situa-se no início do século XX, ali algures depois da Primeira Grande Guerra.

Talvez porque Van Damme acreditava que estava a fazer um grande filme (afinal de contas, Madonna era a principal escolha para a protagonista feminina, enquanto que Sir Roger Moore acabou mesmo por ser convencido a participar (se bem que o próprio confessava ser o pior filme da sua carreira)), Em Busca da Cidade Perdida começa de forma bem inesperada. Van Damme é então o líder de uma gangue de miúdos de rua, saídos direitinhos do Oliver Twist, mas vê-se obrigado a fugir quando um assalto a uns bandidos corre mal. Em menos de nada, Van Damme está embarcado, vai parar à ilha de Muay Thai(!) onde é vendido aos guerreiros locais, que o treinam como o maior lutador do mundo de… muay thai. É o background que mais voltas de 180 graus dá de toda a história do cinema.

Tudo isso para ir desembocar no kumite, o torneio secreto que junta os maiores lutadores do mundo na Cidade Perdida (seja lá isso onde for), mas que afinal é um torneio entre países. Isto porque permite identificar melhor os outros lutadores: o escocês vai de kilt(!), o brasileiro luta capoeira, o espanhol luta… flamengo(!), o japonês luta sumo e o africano – sim, há um país chamado África – já não sei o que luta, mas, juntamente com o brasileiro, é o único que tem tipos a tocar tambor enquanto luta. Os escurinhos precisam sempre de batucada para parecerem exóticos. Em Busca da Cidade Perdida não podia ser mais racista.

O torneio é então o que realmente importa no filme e Em Busca da Cidade Perdida até tinha tudo para ser um bom mau filme. Mas os combates são todos demasiado rápidos para ter algum interesse, a luta final entre Van Damme e Abdel Qissi (que também fora o mau em O Legionário) é totalmente desprovida de qualquer sinal de grandiosidade apesar de apostar tudo no épico e, pelo meio, ainda somos obrigados a acreditar que Van Damme é bastante amigo de um tipo com quem troca duas falas em todo o filme e que Qissi mata no ringue. Resumindo e baralhando: Em Busca da Cidade Perdida é uma versão de Força Destruidora, mas em mau. E o Cheeseburguer é apenas por respeito a Roger Moore, que deve ter passado as passinhas do Algarve quando se apercebeu onde se tinha metido.

Título: The Quest
Realizador: Jean-Claude Van Damme
Ano: 1996

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