| CRÍTICAS | Lady Bird

A estreia de Greta Gerwig na cadeira de realizador (ela, que é um dos principais nomes da comédia alternativa norte-americana, também já tinha dado provas como argumentista) é um daqueles filmes indie que há não muito tempo fez escola em Sundance e criou o seu próprio estilo. É uma espécie de comédia auto-depreciativa, mas extremamente consciente e a mesmo tempo irónica, sobre o ordinário da vida, que encontra primos próximos em Miranda July ou Jared Hess. E que todos eles têm em Woody Allen uma espécie de paternidade à prova de qualquer teste de ADN.

Lady Bird é então a alcunha que Saoirse Ronan dá a si mesmo, ela que é uma aspirante a artista a terminar o liceu, cujas expectativas são inversamente proporcionais ao que o vilarejo do interior onde vive tem para oferecer. Mesmo que não saiba quem é o Jim Morrison, Lady Bird percebe que aquela terra não tem nada para lhe dar e, enquanto vai morrendo aos bocadinhos por dentro, planeia a vida futura que acredita passar inevitavelmente por Nova Iorque. Mesmo que venha de uma família de classe-média baixa, com as despesas contadas ao centavo, e que, por isso, não agoire nada de bom no que diz respeito a pagar uma universidade boa e longe de casa. Lembra-se de A Vida é Injusta? É mais ou menos o mesmo ambiente.

Lady Bird é assim um coming of age, ambientado no último ano de liceu, construído a partir de mini-narrativas que, quando colocadas todas juntas e vistas ao longe, permitem tirar uma imagem do todo completa. E apesar de ter no baile de finalistas um momento determinante, não se limita a ficar por aí e avança mais na linha temporal, o que raramente acontece neste tipo de filmes, e que lhe permite tirar melhor as suas próprias conclusões.

Lady Bird não tem o humor de Jared Hess (até porque a sua galeria de freaks é bem mais pequena), mas também é um filme muito mais sério, se bem que à vista desarmada não o pareça. Mas uma coisa que faz falta é uma banda-sonora que fique no ouvido, como costuma acontecer com este cinema indie. Fica-lhe bem, no entanto, a nomeação ao Oscar, se bem que percebemos aqui a jogada política: de uma só cajadada, mata dois coelhos, preenchendo as quotas da nomeação de um filme feito por uma mulher e de um filme alternativo para apelar a um público jovem e hipster. Por aqui, neste imodesto tasco cinéfilo, as coisas são bem mais simples. Dizemos que é um McBacon e pronto.

Título: Lady Bird
Realizador: Greta Gerwig
Ano: 2017

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