| CRÍTICAS | Ready Player One – Jogador 1

Nunca pensei vir a dizer isto, mas o meu nível de desespero é tal que cá vai: que venha o revival dos anos 90! Já estou tão farto de música com sintetizadores manhosos, penteados com permanentes, peta zetas e spectrums que já nem me importo de levar outra vez com as saias por cima das calças, os Vengaboys ou o grunge (eu sei que me vou arrepender disto). É que, ainda por cima, a nostalgia pelos anos 80 atingiu aquele ponto em que o pessoal parece competir por ver quem consegue lembrar-se de mais referências. Desculpa lá, Markl, mas o primeiro episódio do 1986 era só isso.

A febre dos eighties chegou agora a Steven Spielberg, mas neste caso até damos o desconto. Afinal de contas, o realizador norte-americano foi um dos que mais contribuiu com referências para a cultura pop dessa década. Aliás, o próprio livro que Ready Player One – Jogador 1 adapta, de Ernest Cline, farta-se de citar filmes seus. Além disso, esta também não é propriamente uma história sobre os anos 80, mas antes uma aventura futurista que emula os anos 80.

Estamos então no ano de 2045, com o planeta atolado em problemas, o que leva as pessoas a encontrarem um escape no OASIS, um mundo alternativo onde podem ser e fazer o que quiserem. Este foi criado por James Halliday (Mark Rylance), o geek-mor daquela geração, que quando morre esconde um easter egg no jogo que, quem o desvendar, herda toda a sua fortuna. Assim, Ready Player One – Jogador 1 vai ser uma jornada pelo mundo virtual do OASIS em busca do prémio.

Ready Player One – Jogador 1 é a versão do Willy Wonka no mundo virtual (lembra-se quando o Second Life era uma cena e parecia que ia ser o futuro?), onde a aventura não é apenas escapismo lúdico (e louco), mas antes uma forma de fazer reflectir sobre coisas sérias. E neste caso não poderia ser mais óbvio: é uma crítica às redes sociais e ao alheamento que a realidade virtual está a provocar nas pessoas, funcionando como um abre-olhos para prestarmos mais atenção ao nosso mundo, aquele de que só temos um.

Tendo em conta que a mensagem não é das mais originais, resta-nos portanto mergulhar de cabeça na aventura pelo CGI, de mão dada com Steven Spielberg. Até porque esta é mais uma daquelas aventuras com miúdos de que o realizador tanto gosta (olá Os Goonies, olá ET – O Extraterrestre). As referências pop são mais do que muitas e, se há coisa que Ready Player One – Jogador 1 vai permitir, é que muito boa gente descubra O Gigante de Ferro. Também a sequência com o Shining (e é sabida a relação entre Spielberg e Kubrick) é toda ela de se tirar o chapéu.

No entanto, nunca sentimos verdadeiramente uma sensação de vertigem, de perigo ou de diversão em relação ao OASIS. Ou pelo menos algo parecido com aquilo que as personagens nos querem convencer que estão a sentir quando estão a envergar os seus avatares. É certo que Spielberg não é Michael Bay (amén a isso) e não se perde em masturbações digitais desnecessárias; e também é certo que Ready Player One – Jogador 1, apesar da montanha-russa visual que é (e é-o com mérito próprio), não é tão epiléptico como o era Speed Racer. Mas Ready Player One – Jogador 1 chega mesmo a passar por momentos… aborrecidos, o que num filme de Spielberg nunca é bom sinal. Por isso, apesar de se recomendar pelo menos uma visualização para o efeito wow que são os efeitos-especiais, não espere mais do que o Double Cheeseburger para comer no final. Título: Ready Player One
Realizador: Steven Spielberg
Ano: 2018

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