Basta olharmos para a carreira de Jean-Claude Van Damme para percebermos que tem uma estranha obsessão pela Legião Estrangeira. Talvez tenha crescido a ver as mil e uma adaptações do Beau Geste ao cinema (ou então não), mas o que é certo é que por mais de uma vez que vimos o belga afazer de legionário. E, no entanto, apenas A Legião dos Duros é o seu filme cem por cento sobre a Legião Estrangeira.
Estamos então no início do século XX, algures ali na ressaca da belle epoque. Van Damme é um boxeur na cosmopolita e multicultural Marselha, que recebe uma proposta irrecusável de um mafioso local: a troco de uma soma considerável de dinheiro, terá que cair derrotado ao segundo round. Van Damme aceita, mas… não só ganha ao combate, como foge com o dinheiro e com… a namorada do mafioso. Quer dizer, esse era o plano, mas ao não conseguir chegar à estação dos comboios com sucesso, só resta uma solução ao belga: embarcar para a Legião Estrangeira, onde todos os têm uma segunda chance de começar de novo, sem perguntas sobre o seu passado.
No norte de África, Van Damme vai ter que enfrentar um rebelde marroquino, Abd-El Krim (Kamel Krifa), ao mesmo tempo que faz novos amigos, nesta espécie de filme de prisão, mas no deserto. A Legião dos Duros é, portanto, um filme de Legião Estrangeiro, caso isto possa ser considerado um sub-género. E se não for, passa a ser.
A Legião dos Duros é uma declinação do habitual filme de porrada de Van Damme numa tentativa de ser um filme dramático. Tentativa porque está tão carregado de clichés, que acaba por ser uma versão xunga e (altamente) romantizada do habitual melodrama de guerra. A Legião dos Duros é antes um filme sobre a amizade, sobre a honra e sobre a fidelidade. Ou seja, uma versão alternativa (para não usar novamente o adjectivo xunga) do Beau Geste, o que pode explicar em muito o primeiro parágrafo.
No final, A Legião dos Duros revelaria-se ainda mais trágico do que parecia ao início. É que, apesar do orçamento considerável, do realizador do Rambo 3, Sheldon Lettich como argumentista, um vilão do James Bond no elenco e, claro, Jean-Claude Van Damme, o filme acabaria por se revelar um flop de bilheteiras na Europa, que no final dos anos 90 ainda ia salvando a já frágil carreira do belga, levando os produtores a ficarem com a criança nos braços sem saber o que fazer com ela. Solução: direitinho para vídeo, sem passar pela casa partida e sem receber 2 contos. Logo a seguir estrearia Soldado Universal: O Regresso, cujo descalabro no box-office viria a pregar o último prego na carreira de Van Damme, que seria remetida irremediavelmente (salvo uma outra excepção no futuro) para o straight-to-video. E A Legião dos Duros ficava para a história como o Cheeseburger mais ao lado da sua filmografia.
Título: Legionnaire
Realizador: Peter MacDonald
Ano: 1998