As adaptações dos jogos de computador sempre foram o calcanhar de Aquiles do cinema. Desde o hecatombe épico de Super Mário até às pragas bíblicas de Uwe Boll, há toda uma série de filmes que não vale a pena recordar (e sim, estou a incluir o primeiro Tomb Raider). E se o desenvolvimento do CGI permitiu salvar as adaptações cinematográficas dos super-heróis, no caso dos jogos de vídeo continua tudo na mesma. Se têm dúvisdas vão lá ver o recente Assassin’s Creed.
O Street Fighter 2 foi um verdadeiro fenómeno no início dos anos 90 e influencia todo um género de jogos de computador até aos dias de hoje. Por isso, a japonesa Capcom, criadora do jogo, encetou esforços para adapta-lo ao grande ecrã e render mais uns trocos. Contratou Steven E. de Souza, argumentista de alguns dos melhores filmes de acção dos anos 80 (olá Comando, olá Assalto ao Arranha-Céus…) para realizar e, depois de terem gasto o dinheiro todo do argumento a convencer Jean-Claude Van Damme e Raul Julia, disseram-lhe agora amanha-te.
Sreet Fighter é um jogo básico de luta, one-on-one, em que temos de derrotar vários lutadores de diferentes estilos pelo título de… lutador de rua. Ou seja, no fundo é a premissa dos melhores filmes da carreira de Van Damme (alguém mencionou Força Destruidora?). Contudo, Steven E. de Souza não se limitou a criar um novo kumite. Agarrou antes nas personagens e criou uma espécie de war movie, sobre um tirano senhor da guerra, M. Bison (Raul Julia), líder de uma república asiática fictícia (mas em tudo semelhante à Tailândia), o qual vai ser impedido pelo capitão Guile (Van Damme), líder das tropas das Nações Aliadas.
Steven E. de Souza fa-lo através de um copy paste de elementos que vai buscar a vários lados, incluindo a memória colectiva da ainda fresca guerra jugoslava. E, verdade seja dita, com as personagens que tinha ao seu dispor, Souza não conseguiria nunca levar a coisa mais a sério. Ora vejamos: um brutamontes soviético, uma lutadora oriental, um pugilista, um lutador de sumo, um hispânico de máscara de hóquei no gelo e garras, um sósia do Bruce Lee ou… um monstro verde com o cabelo laranja(!). Ou seja, Street Fighter – A Batalha Final tem o ambiente camp (e kitsch) de um Flash Gordon, que também era, por sua vez, uma versão barata dos filmes de sci-fi e de uma determinada space opera.
Além disso, Street Fighter – A Batalha Final tem também esse aspecto low budget, mas sem ser necessariamente pobre. Deambula por entre cenários exóticos, templos tailandeses e indoors high-tech neo-futuristas de série b, como a consola voadora de Bison que tem os controles de uma arcada, num maravilhoso momento tongue in cheek. Aliás, esse ambiente descontraído de quem não se leva muito a sério é o melhor trunfo de Street Fighter – A Batalha Final, provavelmente o único filme de imagem real da história a ter um goofy holler.
Apesar de já não estar nas suas melhores condições de saúde – este seria mesmo o seu último filme, rodado já numa fase terminal de um cancro -, Raul Julia mantém o profissionalismo até ao fim e leva o seu senhor da guerra bem a sério, sendo de longe o melhor do filme num estilo excessivo que casa bem com o resto. Infelizmente, já não consegue um duelo final com Van Damme que valha a pena recordar. Quanto ao restante elenco, é apenas uma panóplia de secundários do Walker, o Ranger do Texas, ilustres desconhecidos e… a Kylie Minogue.
Além de ser uma diversão despretensiosa, Street Fighter – A Batalha Final pisca ainda o olho aos fãs do jogo – que, na altura da estreia, era praticamente toda a gente com menos de 25 anos -, ao utilizar o máximo de personagens possíveis e até os seus golpes especiais. Isso explica o facto de que, apesar de ser considerado amiúde como um dos piores filmes de sempre, tenha sido um sucesso de bilheteira. Nem tanto ao mar, nem tanto à terra: é um Double Cheeseburger com gosto a guilty pleasure. Além disso, o recente Street Fighter – A Lenda de Chun-Li veio provar que era possível fazer-se bem pior.
Título: Street Fighter
Realizador: Steven E. de Souza
Ano: 1994
eu até que gostava muito deste filme, embora tivesse achado bem fraquinho os últimos combates, mas era tão fixola identificar os personagens… no entanto, gostava mais do seu primo bastardo, Mortal Kombat, o primeiro e o segundo inclusive.
Nunca gostei do Mortal Kombat.
Mas gostava do Double Dragon :X
é, o double dragon era mesmo fixe, um combate final fraquinho também, mas imensa pinta, com o T-1000 a levar pancada de karatecas e Marc Dacascos ainda parecia ter futuro.
mas, curiosamente, eu gosto do Super Mário.
e das porcarias do Uwe Boll, acho POSTAL bem conseguido.