| CRÍTICAS | Especial Mamma Mia!

Mamma Mia! foi o filme mais visto do ano da graça do Senhor de 2008. Não ganhou nenhum Oscar nem nenhum crítico (com boa ou má vontade) o elogiou, mas, no entanto, toda a gente o viu, quer de livre vontade quer obrigado e quer tenham vergonha de o admitir ou não. Eu não tenho vergonha de confessar que o vi, até porque toda a gente sabe que gosto de musicais e porque estou bastante seguro da minha masculinidade. No entanto, devo admitir que a ideia de Mamma Mia! é das mais parvas de sempre: uma adaptação dum musical com as músicas dos ABBA.

Devo ainda confessar outra coisa que me surpreendeu. É que nunca me tinha apercebido que as letras das músicas dos ABBA são todas sobre tipas interesseiras à procura de gajos com dinheiro, de pila, ou dos dois ao mesmo tempo. Mas a música pop não devia ser sobre coisas felizes e bem intencionadas, como mundos idílicos onde tudo é perfeito, as gomas nascem nas árvores e o céu está sempre cheio de arco-irís?

Seja como for, Mamma Mia! reflecte na perfeição essas duas componentes da música dos ABBA: em primeiro lugar é um feelgood movie por excelência, cheia de canções alegres, ambientado nuam ilha mediterrânica onde está sempre sol, com praia por todo o lado, pessoas bonitas, álcool e confetis a caírem (só faltam mesmo as drogas para a festa perfeita); em segundo lugar, (o que se assemelha à) história é um espelho do deboche das letras dos ABBA, onde as personagens só pensam em sexo e todo o filme é uma enorme mensagem subliminar sobre cobrição (hetero e homossexual).

Claro que tudo isto é embrulhado na estrutura musical, onde todas as pessoas desatam a cantar sem motivo aparente, em coreografias muito bem ensaiadas, realçando os momentos dramáticos do argumento. É como Across the Universe, mas com as músicas do ABBA em vez dos Beatles; e é como Brilhantina, mas com personagens mais cotas (se bem que tudo aquilo é um enorme romance juvenil). No fundo, (aquilo a que chamam de) história resume-se a: Sophie (Amanda Seyfried) vai-se casar mas não sabe quem é o pai. Assim, convida para o copo de água os seus três pais possíveis, uma vez que a sua mãe (Meryl Streep) é uma hippie velha que andou a cobrir ao desvario e não sabe quem a emprenhou. Já muita sorte tem ela de a miúda não ter nascido a ladrar…

Claro que os três pais são, pertinentemente, bastante esteriotipados: Stellan Skarsgård é o hippie envelhecido, Colin Firth é o tipo certinho e Pierce Brosnan é… bem, é Pierce Brosnan, o playboy. Também pertinentemente há duas amigas da mãe, igualmente esteriotipadas: Christine Baranski, a divorciada em série, e Julie Walters, a eremita. É uma mistura entre a figura das mulheres emancipadas e independentes de O Sexo e a Cidade com… a música dos ABBA.

Temos então um argumento que dá para meia hora de filme, mais meia-hora de músicas dos ABBA (bons arranjos e divertidas coreografias). Fica a faltar uma meia-hora de filme em que a realizadora, Phyllida Lloyd, vê-se à rasca para encher chouriços. Temos então meia-hora de chover no molhado, em que nada desenvolve, até terminar tudo numa assustadora festa à chuva, em que os homens se despem todos em tronco nu e fica uma estranha tensão homossexual no ar. Creepy ending…

Nada contra musicais, nada contra os ABBA, nada contra o Pierce Brosnan a cantar (se bem que às vezes faça apetecer querer espetar um pau afiado nos ouvidos), nada contra silly movies. Mamma Mia! é mesmo fraaquinho e só entretém nos primeiros trinta minutos. Para aguentar o resto é preciso ser mesmo muito fã da banda sueca. E mesmos esses tenho dúvidas que consigam comer mais que um Cheeseburger.Título: Mamma Mia!
Realizador: Phyllida Lloyd
Ano: 2008

A ideia de um fazer um musical com as músicas dos ABBA, em redor de uma hippie envelhecida e os seus três maridos podia ser a mais pateta de sempre, mas Hollywood raramente deixa escapar um bom negócio e depois de Mamma Mia! ter sido o filme mais visto de 2008, tornava-se imperativo fazer uma sequela. Por isso, dez anos depois, Hollywood fez aquilo que faz sempre: um Mamma Mia! maior, mais brilhante e mais barulhento, mas não necessariamente melhor.

Hollywood também costuma seguir à risca a máxima de que em equipa que ganha não se mexe. Por isso, Mamma Mia! Here We Go Again volta a ser um filme sobre pessoas bonitas nas praias da Grécia, a fazer aquilo que as pessoas bonitas fazem (ou seja, o mesmo que as pobres, mas sem serem julgadas por terceiros) e como se o dinheiro não existisse. O elenco aumentou, com Andy Garcia a ser o nome de maior destaque, mas há um plot twist: desta vez não temos Meryl Streep. Dez anos depois, ela faleceu, mas a sua filha (Amanda Seyfried) vai manter vivo o seu legado e vai abrir um hotel em sua memória na mesma paradisíaca ilha grega.

Mamma Mia! Here We Go Again é uma sequela e uma prequela ao mesmo tempo, já que paralelamente à história principal vamos recordar a adolescência de Streep, de como esta chegou inicialmente à Grécia e de como conheceu os três(!) pais de Amanda Seyfried. Lily James faz de jovem Streep e Hugh Skinner, Josh Dylan e Jeremy Irvine fazem, respectivamente, de jovens Colin Firth, Stellan Skarsgård e Pierce Brosnan. E, tal como o filme anterior, é mais uma vez sobre escapismo máximo, hedonismo e amor, muito amor.

Repetem-se alguns temas do filme anterior, mas Mamma Mia! Here We Go Again é feito, maioritariamente, de temas menos conhecidos dos ABBA. Não é que isso seja desculpa para que este tomo seja ainda mais oco e fútil que o anterior. O realizador Parker – conhecido por ter sido o argumentista de outro feelgood movie bem oco e fútil, cujo êxito é incompreensível, O Exótico Hotel Marigold – limita-se a uma realização derivativa, com coreografias pouco imaginativas (a excepção será, provavelmente, Waterloo) e nenhum momento verdadeiramente significativo.

E, já perto do fim, eis que surge em cena… Cher! A fazer de avó de Amanda Seyfried, Cher surge plastificada para interpretar o Fernando com o canastrão do Andy Garcia (que continua a ser um dos piores actores de sempre, mas que agora pensa que a idade lhe dá alguma solenidade) e para uma coreografia em que se mexe tanto quanto um pau de vassoura. Depois acaba tudo ao molho, em festa super-exuberante, com o filme a terminar exactamente no momento em que servem o Happy Meal. Fora das cenas ficou o after-party, com as bebedeiras de ouzo.

Título: Mamma Mia! Here We Go Again
Realizador: Ol Parker
Ano: 2018

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