Já ouviram aquela da rapariga/rapaz que era muito reprimida/o por causa da religião e depois apaixona-se por um(a) outra/o rapariga/rapaz que é danada/o para a tentação e depois vai-se a ver e a/o inocente não é assim tão inocente? Eu já. Várias vezes. E agora, com Thelma, mais uma.
Thelma é mais um filme que pega na religião como força repressora suprema contra o mais natural e carnal dos desejos para depois contar a história da ambivalência de uma personagem dolorosamente dividida entre uma sexualidade adolescente imparável e uma repressão familiar amovível. Tem coisas que podiam dar-lhe um toque de originalidade, mas é pena que parece que fica sempre a faltar qualquer coisa. E é pena que essa “qualquer coisa” seja quase sempre densidade na história.
A história resume-se a isto: uma adolescente, Thelma (Eili Harboe), que vem de uma família extremamente religiosa, apaixona-se por outra adolescente e, nos momentos de maior tensão entre desejo e repressão, descobre-se que tem uma espécie de poder sobrenatural que, no limite, faz desaparecer pessoas da face da Terra. Não tenho nada contra o uso do sobrenatural em filmes, mas se nos pedem para suspendermos a descrença, é bom que seja por um bom motivo. Só que esse motivo parece estar ausente aqui.
É bem verdade que a prestação de Heili Arboe parece levar o filme todo e isso, em conjunto com um ambiente irrepreensível, às tantas, parece ser suficiente. Mas a verdade é que, sem uma história boa que o carregue, o filme parece ser só um exercício de estilo superficial e um pouco vaidoso. Uma espécie de primeiro esboço de Cisne Negro (até a imagem do cartaz parece roubada), só que, onde esse triunfa gloriosamente, este fica sempre aquém de um potencial que parece estar debaixo da superfície.
À falta de história, os momentos de tensão, que podiam ser aflitivos, são só interessantes, os momentos sexuais não têm a tensão que deveriam ter e a ligação que estabelecemos com as personagens é, à medida do filme, engraçada mas superficial e passageira. Seria bom que Joachim Trier tivesse perdido um bocadinho de mais tempo nisto porque tivesse sido esse o caso e certamente mereceria bem mais do que um muito mediano Double Cheeseburger.Título: Thelma
Realizador: Joachim Trier
Ano: 2018