| CRÍTICAS | Kickboxer: A Vingança

Golpe de Vingança (o título português de Kickboxer) não só é um dos melhores filmes de sempre de Jean-Claude Van Damme, como é aquele que cristalizou alguns dos principais clichés da sua carreira. Especialmente o de que todos os seus filmes têm que ter uma luta num bar. Golpe de Vingança é aquele em que o belga vai com o seu treinador oriental místico a um bar, é embebedado, mete-se a dançar o Despacito com umas lindas lá do pedaço e tudo o que é galifão é atiçado para lhe dar na cabeça.

Depois de Golpe de Vingança, houve mais uma série de sequelas série z que ninguém viu, mas que tornavam difícil reeintroduzir Van Damme num novo filme. Por isso, a forma de revitalizar (leia-se recomeçar) o franchise foi com um remake.

Assim, a história é a mesma de Golpe de Vingança. Eric Sloane (Darren Shahlavi) é o campeão americano de muay thai que é desafiado a ir lutar com o campeão tailandês à terra do próprio muay thai, Só que na Tailândia, os combates são tão corruptos quanto violentos e Kurt acaba morto no ringue, às mãos do poderoso Tong Po (Dave Bautista). Por isso, o seu irmão, Kurt (Alain Moussi), vai procurar vingança e, para isso, vai contar com a ajuda de um mestre de muay thai local: o francês(!) Durand (Van Damme).

Golpe de Vingança tinha aquele ar ingénuo dos filmes xunga dos anos 80 e, a primeira coisa que o realizador John Stockwell tenta, é dar a Kickboxer: A Vingança um ar mais sério. O que não é fácil quando isso envolve cenas de porrada em cima de elefantes de plástico. Sim, porque um filme passado na Tailândia que não explore esse e todos os outros clichés do país não seria um filme (ficou só a faltar alguma cena com um transexual para ficar completo o rol de estereótipos).

No entanto, tudo o que Kickboxer: A Vingança introduz de novo é sempre um tiro ao lado. Há uma polícia (Sara Malakul Lane), que está lá só para mostrar as maminhas numa cena de sexo gratuita perto do fim, que está lá apenas para forçar o caso amoroso com Kurt Sloane; há um parceiro de treino, que anda sempre com uma garrafa de cerveja na mão para percebermos que ele é alcoólico, que cai do céu por não ter unhas; e depois todos os actores foram escolhidos para o papel errado. Bautista, a imitar em tudo Michel Qissi (com trancinha e tudo), é apenas um monte de músculos que não consegue lutar; Alain Moussi tem os moves necessários, mas não tem um pingo de carisma; e Van Damme… vá lá, a sério? Golpe de Vingança era fixe por causa desse toque exótico, o ocidental que vai treinar com o mestre milenar chinês. Mas aqui, o treinador é um europeu de fedora? A sério que nos querem impingir essa ideia?

Por isso, a única coisa de jeito em Kickboxer: A Vingança é fazer o jogo de descobrir todas as referências ao filme original. O cameo divertido de Michel Qissi, Alain Moussi a fazer a espargata e Van Damme a dizer não há tempo para isso, o treino com cocos e pontapés a uma palmeira e, claro, a ida ao bar para lutar com um gandim local. Isso leva-me a abordar outra coisa que estava a tentar evitar. Mas que raio de herói é Alain Moussi, que perde todas as lutas em que entra. Até no bar é totalmente espancado e tem que ser salvo por Van Damme. Worst hero ever!

Não sei se terei coragem para ver a sequela, depois deste Happy Meal. Quem é que eu quero enganar? Claro que verei!
PS – há uma cena pós-créditos em que Alain Moussi recria a dança de Van Damme no bar. WTF?

Título: Kickboxer: Vengeance
Realizador: John Stockwell
Ano: 2016

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