Depois de, finalmente, terem acertado (relativamente…) com Mulher Maravilha, a DC sentiu-se demasiado optimista e partiu logo para outra, demasiado confiante de que tinha detectado o porquê de todos os seus filmes serem abaixo dos mínimos. No entanto, Aquaman só veio provar que Mulher-Maravilha foi apenas a excepção que confirma a regra. A DC na televisão é fixe, no cinema é cocó.
O grande problema continua a ser a forma como a DC encara o seu público, como se todo ele tivesse 6 anos. Uma das coisas que a Marvel percebeu rapidamente foi que quem vê os seus filmes já não são os miúdos geek que cresceram com os livros; eles cresceram e agora são um público mais exigente. Por isso, desde logo que apostaram na maturação dos seus herói. Entretanto, foram tornando os filmes menos sérios, encontrando um equilíbrio entre seriedade e entretenimento. Thor será, quiçá, o melhor exemplo desse percurso, em que o primeiro filme é altamente sisudo Ragnarok inversamente lúdico.
Basta olhar para o acto de abertura de Aquaman, que conta a origem do herói, para perceber como o filme nos trata por totós. É toda uma série de clichés, que segue um dispositivo de género pré-montado, que tanto serve para o Aquaman como para qualquer outro super-herói. E quando Nicole Kidman é ferida, o pai de Aquaman até coloca a ligadura por cima do seu fato, não vá a gente não a reconhecer sem o uniforme – um atestado de patetice passado à cara podre.
No entanto, essa infantilização do filme até funciona quando este se passa no mundo da Atlântida. Afinal de contas, estamos a falar de uma civilização aquática altamente evoluída, com cidades inteiras construídas debaixo de água. Por isso, era impossível levar o filme a sério de outra forma e aguentar a suspensão da descrença. Para quem tem dúvidas nisso, é ir ver novamente o Thor.
Jason Momoa é então o filho bastardo da rainha da Atlântida, que ela teve com um humano e que, por isso, acabou excomungada. Momoa, com o seu ar de motoqueiro mauzão, está ressentido com os seus semelhantes, mas quando o irmão decide tornar-se Mestre dos Oceanos e declarar guerra à superfície – para que parem de poluir os mares, na mensagem ecológica mais preguiçosa e oportunista de sempre -, Momoa lá vai ter que ir cumprir o seu destino: encontrar um tridente sagrado, derrotar o mano e assumir trono da Atlântida.
O argumento é do mais formulaico que há e o realizador James Wan – num incompreensível estado de graça, depois dos bocejos dos Conjurings e do sétimo Velocidade Furiosa – nem sequer se esforça em evita-los. Basta ver como aproveita a mínima oportunidade para afiambrar o dente a uma montage (uma delas romântica, nas ruas de Itália, que serve para Amber Heard se apaixonar pela Humanidade, é especialmente ridícula). E sempre que o argumento entra num beco sem saída e necessita ser desatado, entram em cena os soldados maus, que vêm matar o Aquaman. Como é que o encontram, não interessa para nada, porque o que interessa é fazer muito barulho e piscar muito, para nos distrairmos e desligar o cérebro.
Ah, e lembram-se de falar dum tridente sagrado? É aqui que o filme se torna num mini-Indiana Jones, mas com a profundidade de um teatrinho e escola. Só não é tudo mau em Aquaman porque este tem o bom-gosto de dar um papel a Dolph Lundgren. E, por falar nisso, que raio de vilão mais inconsequente é o Manta Negra (Yahya Abdul-Mateen II)? O filho dum pirata(!) que o Aquaman abandona para morrer afogado propositadamente(!!) – excelente exemplo de um super-herói e do sucessor ao trono dos oceanos.
Aquaman é para pôr ao nível dos piores (sim, estou a falar de Ghost Rider (ugh, que dor) e de Lanterna Verde (a sério, parem, isso magoa) e só não va totalmente ao fundo porque a caixa do Happy Meal flutua (e porque Aquaman é o rei dos mares, claro).
Título: Aquaman
Realizador: James Wan
Ano: 2018