| CRÍTICAS | O Uivo do Coiote

O Uivo do Coiote é, simultaneamente, um dos filmes mais esquecidos e sobrevalorizados de Jean-Claude Van Damme. Talvez por ser um dos poucos que foge à sua fórmula de sempre, a de alguém lhe mata a família e ele vai vingar-se. O nosso cérebro vê o Muscles from Brussels a comportar-se de maneira diferente da que estamos habituados a ver e deixa de conseguir processar essa informação.

Além de ser um filme de Van Damme que não segue a fórmula Van Damme, O Uivo do Coiote é ainda o único (neo)western da carreira do belga. Aliás, O Uivo do Coiote está para a sua filmografia assim como McQuade, O Lobo Solitário está para a de Chuck Norris. E, como se isso não bastasse, é ainda um remate de Yojimbo, O Invencível mas com cáubois em vez de samurais, seguindo a velha tradição de Os Sete Magníficos.

Então porque é O Uivo do Coiote tão pouco lembrado? As explicações podem ser duas. Uma é o título original altamente genérico – Inferno, a sério? -, que tanto pode referir-se a este filme como a qualquer série b de terror altamente descartável; e a segunda foi o facto de ter surgido na pior altura da carreira de Van Damme, quando esta começava a definhar e ele preparava-se estava ali no rés-rés, entre os foles de bilheteira e os straight-to-video. Claro que os mais desatentos podem pensar que essa indiferença por O Uivo do Coiote se pode dar por ser mau, mas todos nós, cinéfilos a sério, sabemos que essa suposição não faz sentido nenhum.

Van Damme é então um solitário com traumas de guerra que decide ir para o deserto para morrer. Contudo, antes de se suicidar, uns bandidos dum vilarejo por ali perto, aparecem para o espancar, roubar-lhe a mota e deixa-lo com uma bala no lombo. Van Damme não só não morre, como fica fulo da vida. Cura-se com a ajuda do amigo índio/místico Danny Trejo (num dos seus primeiros papeis em que se aguenta sem morrer até depois da hora de filme) e vai recuperar a mota. E, pelo caminho, aproveita para se vingar.

Este intróito é apenas um pretexto para montar um dos mais tradicionais dispositivos do western: o do forasteiro que chega à cidade para impor a ordem. É que esta vila, perdida no deserto desde que a auto-estrada levou dali o movimento, é um antro de corrupção, crime e roubo. Só não se percebe é como é que, num sítio com tão poucos habitantes, existem tantos bandidos e gangues.

Raspa-se com a unha essa capa de misticismo e O Uivo do Coiote rapidamente se torna no habitual Van Damme flick. Por entre os rotativos, o belga – sempre de chapéu de cáuboi – ainda tem tempo para soltar os seus impulsos sexuais (com duas boazonas ao mesmo tempo, enquanto a velhota lá do motel os observa pela janela(!)), seduzir Gabrielle Fitzpatrick e recrutar Pat “Mr. Miagy” Morita para sidekick. O realizador John G. Avildsen – esse mesmo, o de Rocky e de Momento da Verdade – ainda arranja espaço para enfiar Vincent Schiavelli num papel racista a fazer de indiano e a jovem Jaime Pressly, a Margot Robbie dos pobres.

Ou seja, basta ver por este name dropping que O Uivo do Coiote não é apenas mais um filme genérico de Jean-Claude Van Damme. Este Double Cheeseburger tem mais sumo que a maioria dos seus straight-to-video iniciais.

Título: Inferno
Realizador: John G. Alvidsen
Ano: 1999

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