| CRÍTICAS | Um Polícia no Jardim-Escola 2

Alguém escreveu uma vez que devia haver um prazo para se poder fazer a sequela de um filme e, às vezes, apetece concordar com isso. Quase vinte anos depois quem é que ainda quer ver uma continuação de Um Polícia no Jardim-Escola? Quem viu o filme na altura já cresceu e ganhou juízo; e os miúdos de hoje não o vão ver de certeza. Mas depois o filme dá na televisão e eu encolho os ombros e digo: meh, porque não?

Um Polícia no Jardim-Escola foi uma das várias tentativas de Arnold Schwarzenegger na comédia, em que tentavam dar um lado mais humano aquele saco de músculos. A sequela não é diferente. Com um argumento ainda mais mirabolante, coloca Dolph Lundgren como polícia infiltrado num… jardim-escola, tentando descobrir onde é que o antigo professor-hacker escondeu uma pen com a lista do programa de testemunhas do FBI, antes que esta caia nas mãos do rei do crime local, o albanês Aleks Paunovic.

Um Polícia no Jardim-Escola 2 não podia ser uma versão mais loja do chinês do filme original. Não só Dolph Lundgren é uma versão sem sal de Arnie, como ainda vai buscar para parceiro de Dolphie um sósia sem piada de Chris Tucker (Bill Bellamy) ou convoca Bill Wattley para o papel cliché do chefe da polícia que grita muito. Parece que o realizador Don Michael Paul andou a ver O Último Grande Herói, não percebeu a ironia e utilizou-o como fórmula.

Aliás, vê-se que Don Michael Paul viu o filme original e quis prestar-lhe homenagem, mas não soube claramente o que fazer com ele. Por exemplo, é certo que faltou o cameo de Schwarzenegger, mas há um momento que faz referência ao treino militar que Arnie dava aos miúdos. Tem piada, mas depois não tem seguimento, porque Dolph não vai precisar de fazer nada para conquistar os gaiatos. É como se Don Michael Paul estivesse só a limitar-se a preencher o caderno de encargos, num argumento paint by the numbers.

É certo que há momentos do filme que até encaixam, como aquele em que Dolphie utiliza o que aprendeu no relacionamento com os miúdos para emendar a relação com o seu parceiro. Don Michael Paul já mostrou antes (olá Harley-Davidson e o Cowboy do Asfalto) que sabe encadear ideias num argumento, mesmo em filmes xunga. O problema é que Um Polícia no Jardim-Escola 2 não é um encadeamento de situações, mas um empilhamento. A determinado momento, depois de Dolphie fazer as pazes com o parceiro, convidar a professora boazona para sair, ganhar o respeito das crianças, iniciar um conflito com o professor de IT e identificar um pai alcóolico pelo comportamento mudado de uma das miúdas, aparece uma mensagem no canto: dia 3. O quê? Aconteceu isto tudo em 2 dias de trabalho??

Um Polícia no Jardim-Escola funcionava (será que funcionava mesmo?) pelo choque entre o ambiente familiar da escola e o ambiente másculo (e musculado) da polícia. Um Polícia no Jardim-Escola 2 tenta utilizar esse mesmo contraste, não entre a violência do trabalho policial e a camaradagem da escola, mas entre a vida máscula de Dolphie (vive sozinho, é um conquistador e grelha carne todos os dias (e vai a danças de quadrilha(?)) e o ambiente shanti-shanti daquela escola em particular, com as suas meditações, dietas vegetarianas e a terapia com um porco. Contudo, prolonga apenas esses lugares-comuns, acabando a piada por fazer ricochetear e acabar em si mesmo.

E, no entanto, se eu vos disser que Um Polícia no Jardim-Escola 2 não é tão mau quanto isso? Quer dizer, é mau, mas vê-se sem querermos partir para a violência por mais do que uma vez. Duas. Ok, três vezes, pronto. Vou comer o Happy Meal de uma só dentada para não pensar mais nisso.

Título: Kindergarten Cop 2
Realizador: Don Michael Paul
Ano: 2016

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