| CRÍTICAS | iBoy

Os caminhos da internet são como os desígnios de Deus, só que ao contrário. É que, normalmente, os seus labirintos levam-nos até sugestões que não interessam ao menino de Jesus, já para não falar da desinformação constante e maus conselhos. Por isso, quando fui parar a um site manhoso com uma lista de pérolas da Netflix que ninguém, devia ter desconfiado.

iBoy, que era o único título dessa lista que ainda não tinha visto, é a história de Tom (Bill Milner) que, ao surpreender uns assaltantes/violadores/bandidos na casa da amiga Lucy (Maisie Williams), é baleado na cabeça. No entanto, como estava a tentar ligar à polícia no momento de ser atingido, pequenos pedaços do seu iPhone alojam-se do seu cérebro. Tom não só não morre como, ao acordar no hospital, descobre que tem poderes especiais. Tom consegue agora fazer tudo o que faz um telefone(!) e assume o alter-ego… iBoy(!!), para ir procurar fazer justiça pelas próprias mãos. A Marvel riu-se.

Parece brincadeirinha, mas iBoy não se podia levar mais a sério. Tom aproveita o facto de conseguir enviar mensagens anonimamente, de rastrear chamadas e de aceder à memória dos telemóveis dos membros da gangue lá do bairro para descobrir quem é que invadiu a casa de Lucy e porque o fizeram. Com alguns plot holes pelo meio, Adam Randall lá consegue montar o seu filme.

O outro problema de iBoy é que a intriga em que aqueles jovens estão metidos nunca é condizente com as suas idades. Todos eles estão armados até aos dentes e a serviço de um boss final que é um rei do crime influente, se bem que nunca se percebe quais são as suas intenções, apesar de serem só uns delinquentes rebeldes e revoltados com a vida dos subúrbios em que estão metidos.

Mas nem tudo é mau em iBoy. Além de servir de mau exemplo, claro, Adam Randall tira uma interessante fotografia dos bairros sociais e de como estes vivem na sombra dos arranha-céus que marcam o skyline britânico – sempre o capital a ostracizar a classe baixa -, sempre com aqueles tons metálicos e azulados que tanto lembram um Michael Mann estilizado como a cidade incaracterística e despersonalizada de Blade Runner – Perigo Iminente – a acidade, assim mesmo, com um a antes. No final, iBoy resolve-se com um último acto que parece ter sido tirado dum teatrinho de escola e voltamos à realidade: este Happy Meal é mau demais para ser levado a sério.

Título: iBoy
Realizador: Adam Randall
Ano: 2017

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