É impressionante como Isabelle Huppert já está naquela fase da carreira em que pode dar-se ao luxo de fazer o que bem entender. Não são muitos os actores (muito menos as actrizes) com este crédito, tanto na indústria como no público. Assim, a actriz francesa decidiu, desta vez fazer um thriller psicológico série-b que certamente ninguém iria ligar se não fosse ela a protagonista.
O realizador Neil Jordan já tinha feito mais ou menos o mesmo com A Estranha em Mim, outra variação xunga da história da vítima que se torna vigilante que só se aguentava por causa de Jodie Foster. Mas ter Isabelle Huppert é outra coisa e ela atira-se ao seu papel com unhas e dentes. Por isso, a sua Greta, que dá título ao filme, é uma viúva descompensada, que toca piano e que fala francês, lembrando por isso A Pianista de um forma algo… perturbadora.
Greta, a viúva, vai assim fazer amizade com Frances (Chloë Grace Moretz a especiaizar-se no cinema fantástico), depois desta lhe ir entregar a carteira, que encontrou no metro. Frances é uma jovem algo ingénua, que procura descobrir na grande cidade um rumo para a sua vida, depois de uma tragédia familiar que envolve a sua mãe e que nunca entendemos verdadeiramente o que foi. Por isso, encontra na solitária Greta uma figura que vem preencher algo no seu interior. Só não estava à espera é que ela fosse uma psicopata cruel.
Greta desenrola-se assim pelos caminhos do thriller psicológico, revisitando o melhor e o pior do género (de O Cabo do Medo a Nunca Fales com Estranhos, por exemplo). Um argumento com algumas fragilidades, uma heroína demasiado dama em apuros e até um par de lugares-comuns do género, que podiam atirar o filme para o anonimato. Mas depois há Huppert, a falar húngaro, a dançar ballet e com uma passivo-agressividade que merece por inteiro o Double Cheeseburger que o filme leva para casa.
Título: Greta
Realizador: Neil Jordan
Ano: 2018