Em Abril de 2016 era anunciada e publicada a maior fuga de informação da história do jornalismo de denúncia, com mais de 11 milhões de documentos da empresa do Panamá Mossack Fonseca a revelarem o que andam a fazer aquele 1 por cento de pessoas ricas que dominam isto tudo quando nós não estamos a ver. A papelada, ao detalhar as suas empresas-fantasma em paraísos offshore, demonstrava vários esquemas de burla, fraude e até negócios ilegais, tendo levado até à demissão de presidentes da república. Jornalistas de todo o mundo uniram-se para investigarem este calhamaço de papeis e, em Portugal, o Expresso anunciava que ia divulgar uma lista de jornalistas avençados por uma offshore do BES. Três anos depois, continuamos a aguardar essa notícia do Expresso…
Apesar da gravidade da situação, o caso parece ter passado por entre as gotas da chuva sem se molhar e rapidamente toda a gente se esqueceu dele. E nem o filme que chega agora à Netflix, assinado por um realizador de créditos firmados – olá Steven Spderbergh – e com um elenco de primeira linha – Meryl Streep, Antonio Banderas, Gary Oldman… – parece vir alterar muita coisa. O que é certo é que estamos a falar de um caso que envolve muito jargão técnico, sobre banca, burocracia e política, que nos deixa cansados ainda antes de começarmos a tentar perceber o que se passa.
Ciente desta dificuldade em manter o seu público motivado, Steven Soderberg procurou seguir o estilo de Adam McKay, que nos últimos tempos teve sucesso com casos semelhantes (aluguem menciona Vice ou A Queda de Wall Street?). Ou seja, longe dos filmes-políticos de denúncia dos anos 70, Laundromat: O Escândalo dos Papéis do Panamá é mais um filme sobre um assunto maçudo tratado com humor e várias técnicas narrativas que o aligeiram: personagens que conversam directamente com o espectador para narrar os eventos, intratítulos que tanto servem para pausar o filme como para funcionar como bullet points explicativos ou gags humorísticos que tornam tudo mais descontraído.
Quanto a Laundromat em si, é um filme coral, com várias histórias que estão relacionadas mais ou menos directamente com os Papéis do Panamá, mas que parece não conseguir desligar-se de Meryl Streep por qualquer razão obscura. O que é certo é que a vamos ver, pela primeira vez na sua carreira, a entrar por um escritório fula da vida de caçadeira na mão a despejar chumbo em toda a gente. E só por essa cena, está ganho o filme.
Soderbergh consegue montar um filme curto, relativamente sólido q.b. e que faz bem o seu papel de ser um Panama papeis for dummies, mas que nem por isso evita deixar um gostinho de que ainda havia tanto para dizer. Mas, pelo menos, ficamos a entender melhor o que foram os Papéis do Panamá e a sua gravidade para o mundo, apesar de ninguém querer saber. Só pelo serviço público, o filme merece o McBacon. E, enquanto o degustamos, pode ser que o Expresso revele a tal lista de jornalistas avençados do BES…
Título: The Laundromat
Realizador: Steven Soderbergh
Ano: 2019