| CRÍTICAS | 6 Underground

No último par de anos, a cultura popular deixou-nos de queixo caído várias com episódios que até há bem pouco tempo pareciam completamente impossíveis. Por exemplo, os Metallica a tocarem Xutos ao vivo, a Madonna a passar o reveilhão com a Celeste Rodrigues em Nova Iorque ou a Lídia Franco a entrar num filme do Michael Bay. E o mais incrível é que esse filme, 6 Underground, até pode ser a produção mais cara de sempre da Netflix a seguir ao rejuvenescimento digital de O Irlandês, mas a partir de agora será sempre conhecido como o filme em que entra a Lídia Franco.

Ninguém espera grandes erudições num filme de Michael Bay, o rei do Blockbuster-espectáculo. Especialmente depois de Transformers – O Último Cavaleiro, filme onde atingiu o zénite do pós-modernismo, já que todo ele é apenas um gesto supérfluo de CGI, um gesto em direcção a um estado total de alheamento e patetice. Por isso, se ainda nos damos ao trabalho de ir ver um filme do Michael Bay, a única coisa que pedimos é que nos entretenha. Mas, para isso, temos que deixar o cérebro lá fora.

Para Michael Bay tudo está dependente do factor espectáculo, incluíndo as próprias leis da física. Em Armageddon era necessário haver explosões no espaço e por isso fez-se fogo no espaço. Tudo a cargo do entretenimento audiovisual puro. Por isso, sabemos o que esperar de 6 Underground. E, mesmo assim, Michael Bay surpreende-nos. Mas pelos piores motivos.

6 Underground é a história de uma equipe de soldados da fortuna, liderados pelo ricaço Ryan Reynolds, que têm apenas uma missão na vida: limpar o mundo de tudo o que é gente má. Para isso, encenam as suas mortes para saírem da rede e entregam-se a um mundo de anonimato, inclusive entre eles, já que apenas se tratam uns aos outros pelos números de 1 a 6 (mais tarde haverá o 7, porque Dave Franco não durará muito). Ryan Reynolds, que financia a coisa, escolhe assim os melhores para a sua equipa, qual Ocean’s Eleven – Façam as Vossas Apostas. Há então um tipo que é um ás no volante, outro que é um super-espião, mais um que é alto atirador, um que é médico e outro que… faz parkour(?). Porquê? Porque as acrobacias ficam bem na câmara.

6 Underground até começa com uma perseguição com piada, pelas ruas de Florença (com o tipo do parkour a correr de forma inconsequente pelos telhados), mas depois é sempre a afundar-se. O principal motivo? Um argumento completamente tosco e desprovido de sentido, que parece ter sido escrito na noite anterior. Quem é que faz o filme sobre uma equipa de 6 tipos altamente treinados, que até dão título ao filme e tudo, mas depois eles são muita maus? É que em duas horas e tal de filme, não há uma única missão que consigam terminar com sucesso, sem ninguém morrer e sem falharem. E o tipo do parkour, que é muita bom a correr em telhados, tem sempre uns capangas desajeitados a perseguirem-no. Como é que um tipo que é tão bom a fugir em telhados nunca consegue despistar uns gordalhões que nunca experimentaram parkour na vida?

Aproveitando ainda a embalagem de Deadpool, Ryan Reynolds está sempre a dizer uma piada, mas já dizia a minha avó que mais vale cair em graça do que sem engraçado. E Reynolds não tem gracinha nenhuma. Por isso, 6 Undergound é uma desilusão total: o humor nunca acerta no timing correcto, não há uma história para nos manter interessados (parece que há ali depois um plot sobre a família – daí a Lídia Franco, que faz de mãe de um deles -, sobre a amizade e a partilha, mas não garanto que seja verdade) e a edição das cenas de acção é super-sloppy, até mesmo para um filme do Michael Bay. Portanto, há pouco de interesse em 6 Underground e faz todo o sentido que seja recordado como o filme do Michael Bay com a Lídia Franco, uma vez que ser lembrado pelo filme do Michael Bay que levou um Happy Meal no final não lhe fica tão bem.

Título: 6 Underground
Realizador: Michael Bay
Ano: 2019

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