| CRÍTICAS | Diamante Bruto

Todos os comediantes (ou, pelo menos, aqueles de que vale a pena mencionar) têm o seu filme sério, onde nos entregam um papelão (e um filmão) como quem “eu só faço palhaçada porque quero”. E Adam Sandler fez o seu logo em 2002, em Embriagado de Amor. Não que dizer que, de vez em quando, não nos vá dando mais coisas boas para ver por entre os adam sandler movies que grava quase anualmente. É o caso de Diamante Bruto.

Enquanto o cinema dos irmãos Safdie não ganhar peso próprio e se tornar ele também um adjectivo em si, iremos sempre descreve-los como uma espécie de Woody Allen em ácidos (o que, tendo em conta o speed de Allen, diz muito do cinema dos Safdie). Só que, desta vez, os manos fizeram um Woody Allen nos ácidos num cenário do Martin Scorsese. Ou seja, é como se o Joe Pesci saísse direitinho das ruas e dos gangsters de Tudo Bons Rapazes e fosse ter à downtown com Woody Allen. Basta ver como Diamante Bruto é o quarto filme de sempre com mais fucks para perceber mais ou menos a coisa.

Adam Sandler é o protagonista de Diamante Bruto e, sem ele, o filme não existia. Estão lá todos os traços característicos de Sandler – o overacting, os gritos, o caos constante… -, mas não o reconhecemos. Porque aqui o ambiente é outro. Sandler é um judeu com uma ourivesaria no coração de Nova Iorque, que vive entre dívidas, apostas, amantes e muitas negociatas duvidosas. Diamante Bruto arranca exactamente no início de uma que tem a particularidade de poder ser a negociata que vai terminar todas s negociatas – uma opala negra acabadinha de chegar da Etiópia, que há de ir a leilão por uma pipa de massa, mas que pelo caminho vai envolver um sem-número de peripécias, incluido Kevin Garnett a fazer de Kevin Garnett (e o Weeknd a fazer de Weeknd).

Adam Sandler é um jogador sem filtro, que aposta não só nos jogos da NBA, como também a sua vida, seja ela familiar, conjugal, o que seja. E fa-lo sem olhar às consequências, uma vez que a adição é maior do que a racionalidade. Diamante Bruto faz lembrar Polícia sem Lei pela mesma forma amoral com que o seu protagonista se comporta. E, tal como esse, o filme quase-quase que o recompensa, se bem que Diamante Bruto tem um final bem mais desonesto. Afinal de contas, diamantes de sangue são sempre diamantes de sangue, seja em Nova Iorque seja na Serra Leoa (lembram-se de Diamante de Sangue?).

Tal como o anterior Good Time, Diamante Bruto é uma viagem alucinante, com o mesmo estilo urbano dos irmãos Safdie, como um Michael Mann (ainda) mais estilizado. No entanto, ao se preocupar em se um círculo perfeito, o argumento deste Diamante Bruto acaba por perder um pouco da adrenalina non-stop de Good Time. Ou então é apenas o facto de ainda termos o anterior bem presente na memória que nos faz parecer que este McBacon é ligeiramente inferior a esse filme.

Título: Uncut Gems
Realizador: Benny Safdie & Josh Safdie
Ano: 2019

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