Os escaparates atulham-se nestes dias com milheiros livros com Auschwitz no título e barras na capa, num aproveitamento capitalista da desgraça alheia, tão desavergonhado quanto a banalização do Holocausto que esta proliferação de obras de literatura de supermercado provoca. E apenas poucas semanas depois do Museu de Auschwitz ter vindo desencorajar títulos como O Rapaz do Pijama às Riscas, chegou às salas Jojo Rabbit, uma sátira nazi(!).
Nada contra gozar com nazis. Se há coisa que eles merecem é ser socados. E gozados também. Mel Brooks já nos ensinou isso (olá O Falhado Amoroso). Também há que reconhecer que Taika Waititi tem tomates para o fazer. E se havia altura certa para o fazer seria agora, com todo o street cred que acumulou com Thor: Ragnarok. O realizador neozelandês está nas palminhas de toda a gente e, há que o reconhecer, merece-o.
Jojo Rabbit é então a história de um miúdo nazi (Roman Griffin Davis) nos últimos dias da guerra, totalmente obcecado pelo Reich e pelo Fuhrer, que descobre que a mãe está a esconder uma menina judia (Thomasin McKenzie) na casa. Daqui até se apaixonar e perceber que, afinal, os judeus não são monstros com escamas e chifres é um pequeno passo. Ah, esqueci-me de dizer: o miúdo tem também um amigo imaginário, que é, nada mais nada menos, que o próprio Hitler (interpretado pelo realizador).
Ainda recentemente vimos este filme em Portugal, com Tristeza e Alegria na Vida das Girafas. No entanto, enquanto esse tinha um urso de peluche humanizado que praguejava como um marinheiro, este tem Adolf Hitler(!) para encarnar todas as dores de crescimento e o coming of age daquele miúdo.
É quando abraça por completo a sátira que Jojo Rabbit é bom. Os primeiros 15 minutos, com o miúdo no treino da Juventude Hitleriana, ou a parte final da personagem de Sam Rockwell (que passa o filme todo a ser desprovido), não só fazem verdadeiramente rir, como coloca o dedo exactamente onde dói e acerta em cheio no alvo. No entanto, o resto é apenas uma lamechiche bem intencionada, mas pateta, que normaliza o nazi em função da história de amizade fofinha, que não fica muito atrás de… O Rapaz do Pijama às Riscas. O Cheeseburger não chega a ser ofensivo, mas como dizia Diácono Remédios, não havia necessidade (ou será que sou eu que me estou a tornar do Diácono Remédios?).
Título: Jojo Rabbit
Realizador: Taika Waititi
Ano: 2019
Pingback: | LISTAS | Os 5 piores filmes de 2020 | Royale With Cheese