Quem está mais ou menos familiarizado com situações de crime e rapto, conhece certamente o termo Síndrome de Estocolmo, o fenómeno psicológico que se dá junto das vítimas de rapto que acabam por criar laços de empatia com os seus captores. No entanto, pouca gente sabe donde vem a sua origem. O filme homónimo de Robert Budreau está aí para explicar (de forma muito ficcionada, atenção).
Em 1973, um sueco de cabeleira, armado, com chapéu de cáuboi e a dar instruções em inglês irrompeu por um banco de Estocolmo, deu uns tiros para o ar, fez três reféns e anunciou ao que vinha: queria que soltassem o seu antigo colega de cela da prisão, um milhão de dólares e um Mustang igual ao de Steve McQueen, no Bullit. Durante vários dias, o captor e os reféns (a quem se juntou o tal ex-colega presidiário) mantiveram-se no interior da caixa forte do banco, a negociar com uma polícia confusa, enquanto os media se amontoavam lá fora na porta.
É inevitável pensar-se em Um Dia de Cão, até pelo absurdo da história. Tal como o Al Pacino do filme de Sidney Lumet, também o Ethan Hawke de Síndrome de Estocolmo é um tipo que, no fundo, até tem boas intenções. Tem é um mau sentido de discernimento e de tomar decisões. No entanto, o realizador Robert Budreau não tem nada de Lumet e, enquanto que Um Dia de Cão é um filmaço, Síndrome de Estocolmo falha em todos os campos em que devia marcar pontos.
Primeiro que tudo, existe zero tensão em Síndrome de Estocolmo. É um heist movie em que captores e reféns se refugiam num cofre, mas que não tem nenhum sentimento de claustrofobia, conflito ou choque. E depois, o próprio síndrome de Estocolmo, que dá título ao filme, também não é propriamente explorado, psicologicamente falando. Noomi Rapace (óptima prestação, mas é impossível fazer omeletes sem ovos), na pele da refém que se “apaixona” pelo bandido (que chega mesma a alveja-la pelas costas(!)), nunca tem espessura suficiente para nos dar pistas sobre o que pode levar alguém a ganhar empatia pelo seu próprio raptor.
Síndrome de Estocolmo é uma espécie de versão light de Um Dia de Cão, para pessoas que não têm tempo para ver a obra-prima de Lumet. Ou então uma espécie de equivalente aqueles livrinhos amarelos de resumos da Europa-América, que usávamos na escola em vez de lermos A Aparição para o exame de Português, para o síndrome de Estocolmo. Ou ainda então um Cheeseburger para se comer num domingo à tarde, quando o nível de exigência mental não é propriamente elevado.
Título: Stockholm
Realizador: Robert Budreau
Ano: 2018