| CRÍTICAS | Aventuras Fora de Horas

Os anos 80 foram a ante-câmara no neo-liberalismo e, como tal, uma época de prosperidade económica para os Estados Unidos, que cumpriam assim o seu ideal do sonho norte-americano, alicerçados por um presidente e política de direita que convencia toda a gente que eles eram mesmo um povo escolhido, que se quisessem mesmo muito teriam todo o sucesso do mundo. Isso reflectiu-se nos seus filmes, cujo cinema do meio eram normalmente histórias despreocupadas e sem traumas existenciais, que assim se limitavam ao pleno usufruto do momento.

Os anos 80 foram assim uma década de feelgood movies norte-americanos, sobre famílias de classe média-alta, que embarcavam em aventuras para todas as idades, com uma ideia de crescimento e redenção assente nos valores tradicionais republicanos. É por isso que um filme como Aventuras Fora de Horas permite ter uma cena em que os jovens protagonistas encontram uma prostituta e lhes dizem vêem, se não estudarem é nisto que se tornam.

Aventura Fora de Horas é a história de uma babysitter (deslumbrante Elisabeth Shue, uma das paixões de todos os adolescentes que excresceram nos eighties) que, juntamente com os miúdos de quem está a tomar conta (Maia Brewton, Keith Coogan e Anthony Rapp), vão embarcar numa série de desventuras, que têm que resolver a tempo de regressarem a casa antes dos pais. Tudo começa quando decidem ir apanhar uma amiga que precisa de boleia da estação dos autocarros e têm um furo na autoestrada. Daí até se envolverem com traficantes de carros roubados, músicos de blues e camionistas traídos pela mulher é um pulinho.

Aventuras Fora de Horas é uma aventura teen que, tal como O Rei Dos Gazeteiros ou Negócio Arriscado, coloca os adolescentes como protagonistas, mas em contra-relógio para não serem apanhados pelos pais. E, apesar dos perigos que enfrentam serem bem reais, as consequências nunca são verdadeiramente sérias. Esse é o principal truque para que os feelgood movies dos anos 80 funcionem tão bem. É que nunca há uma verdadeira sensação de perigo ou consequência, já que o pior que pode acontecer é um raspanete dos pais. E, sejamos sinceros, quando éramos jovens havia algo mais assustador que isso? Nem a morte é uma ameaça quando somos jovens e tudo parece tão distante e inalcançável, ao mesmo tempo que faz com que tudo pareça ser possível.

O argumento de Aventuras Fora de Horas é assim esquemático, organizado por episódios, como se fosse um jogo de computador em que temos que saltar de nível em nível. Talvez inspirado pelo sucesso de O Dueto da Corda, o então estreante Chris Columbus cola as cenas com muita música blues-rock, incluindo a melhor cena do filme, em que os jovens invadem inadvertidamente o palco de um concerto de Albert Collins, que lhes diz ninguém sai daqui sem cantar os blues. A solução? Uma bluesada sobre os misfortunes of babysitting.

Pelo meio ainda há de aparecer um muito jovem Calvin Levels, que, anos mais tarde, haveria de ser o sidekick de Chuck Norris nesse filmaço que é Polícia Demolidor (onde Chuck Norris dá rotativos pela cara do anticristo(!)), uma referência directa ao Thor com cameo de Vincent D’Onofrio e um par de estereótipos que, hoje em dia, seriam impossíveis por haver maior sensibilização para tal. No final, completa o arco narrativo e fica sempre a ideia que não houve redenção alguma, foi apenas uma série de… aventuras fora de horas. Aventuras Fora de Horas continua a ser um bom exemplo das aventuras adolescentes dos anos 80, mas é dos Double Cheeseburgers que envelheceu pior. Agora vem com um certo cheiro a velho…

Título: Adventures on Babysitting
Realizador: Chris Columbus
Ano: 1987

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