| CRÍTICAS | Beckett

Grécia, um dos países mais bonitos, estimulantes e com das melhores gastronomias do mundo, berço da civilização ocidental moderna e dos seus pilares fundadores. E, no entanto, continua a ser recordada automaticamente pelos seus anarquistas e protestos na rua, assim como pela crise financeira e a austeridade imposta pelas entidades europeias. Há um meme já sobre isso e agora há um filme que consolida em menos de duas horas esses estereótipos todos: chama-se Beckett e é a primeira produção grega da Netflix.

Beckett (John David Washington) e a namorada April (Alice Vikander) estão de férias na Grécia e, em vez de optarem pelas habituais ilhas turísticas ou por Atenas, decidem ir fazer uma viagem de carro pelo norte. Depois de uma visita ao monte Olimpo, Beckett adormece ao volante, despista-se, enfia-se contra uma casa e acorda no hospital, com a notícia de que a namorada faleceu. Contudo, o azar não se fica por aí. Além de estar sozinho, no meio do nada, a polícia decide tentar mata-lo. Por isso, só lhe resta uma solução: fugir.

Tal como os heróis de Alfred Hitchcock, Beckett é um homem comum colocado numa situação inusitada. Ou seja, aquilo que, commumente, se diz estar no local errado à hora errada. Aliás, Beckett faz lembrar Intriga Internacional, pela mesma forma de que o seu herói vai ter que fazer pela vida ao ser colocado numa situação que não entende. E, tal como nesse clássico de Hitchcock, também aqui é necessário desligar o cérebro para que o filme faça sentido. É certo que ninguém vai enviar um avião para matar Beckett no meio de um descampado, mas existem várias opções em que a polícia podia tomar decisões mais… optimizadas.

Assim, depois do início em modo filme romântico (lembramo-nos, obviamente, de Malcolm & Marie pela proximidade temporal desse outro filme com John David Washigton, se bem que aqui a sua química com Alice Vikander é inexistente), Beckett transforma-se num survival movie. John David Washington vai correr, correr muito, sempre de forma desengonçada, tentando safar-se como pode. E essa é a melhor parte do filme.

Depois começa-se a perceber tenuamente o que se passa e há contornos políticos no caso, o que faria Costa-Gravas orgulhoso. Até porque há uma aura de thriller paranóico dos anos 70, muito Os Três Dias do Condor, que lhe até fica bem. O problema é que, quanto mais o realizador Ferdinando Cito Filomarino tenta explicar o que se passa, mais começamos a coçar a cabeça confusos. Mesmo com o cérebro desligado, há muita coisa que é difícil de ignorar.

Além disso, há ainda uma tentativa de incutir trauma e sentimento de culpa à personagem de Beckett, com uns ataques de pânico e de choro sempre que alguém fala em Alice Vikander (ou quando ele olha para o hotel para onde tinham reserva(!)), que parece enxertado à força no filme. No final, percebemos a intenção: serve para dar motivação a John David Washignton para decidir saltar dum quarto andar sobre o carro do mauzão do filme, para salvar o dia(!), numa daquelas cenas que arruina qualquer filme. Com Hostel já sabíamos que era perigoso viajar à Europa de Leste, com este Cheeseburger aprendemos que também o é ir até à Grécia.

Título: Beckett
Realizador: Ferdinando Cito Filomarino
Ano: 2021

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